O mundo está receoso com o setor imobliário americano que nos últimos cinco anos esteve superaquecido e eufórico, face a excessiva oferta do chamado crédito subprime. O temor se expandiu porque, a partir de meados de 2007, verificou-se alta inadimplência daqueles clientes historicamente mal pagadores e que, por isto, oferecem menos garantia de pagamento (crédito subprime – ou de segunda linha).
Os empréstimos subprime (maior risco) possuem juros maiores, tornando-os mais atrativos para gestores de fundos e bancos à caça de maiores ganhos. Estes gestores, ao comprarem tais títulos das instituições que concederam o primeiro empréstimo, permitem que um novo montante retorne às pessoas na forma de novos empréstimos (leia-se créditos subprime) antes mesmo da liquidação dos primeiros. Um segundo gestor, visando o lucro, compra o título adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerando uma cadeia perene de negociação dos títulos.
Os bancos, com oferta abundante de recursos (alta liquidez), precisam gerar seus lucros. Para que isto ocorra tornam-se menos seletivos com as garantias. O problema surge porque o tomador do empréstimo (potencial inadimplente) não honra sua dívida inicial, ativando o ciclo de não-recebimento por parte dos credores dos títulos. A consequência? Os mercados mundiais passam a ter medo de emprestar e comprar os subprime, gerando uma crise de liquidez (retração de crédito). Os créditos gerados nos EUA podem ser convertidos em ativos que vão render juros para investidores em outras economias mundiais, sejam elas ricas, pobres ou emergentes, por isso o pessimismo influencia todos mercados. A tensão aumentou com o problema do do banco francês BNP Paribas (um dos grandes da Europa), que congelou o saque de três de seus fundos de investimentos que tinham recursos aplicados em créditos gerados a partir de operações hipotecárias nos EUA.
Para socorrer os mercados financeiros e garantir a manutenção do crédito, os principais bancos centrais do planeta (BCE, europeu e o FED, americano entre outros) intervieram e liberaram bilhões de dólares em recursos aos bancos, com receio de que a retração do crédito provocasse a redução do consumo e queda no crescimento de suas economias. No neoliberalismo é assim, na hora de ganhar dinheiro o Estado tem que ficar de fora. Na hora de pagar ele (leia-se povo) é convocado.
A pergunta recorrente é: a crise atingirá o Brasil? Nenhuma economia está imune à crise em tela. A questão é saber que intensidade. As opiniões são as mais diversas e controvertidas. No entanto é unânime o entendimento dos analistas econômicos de que as reservas cambiais do Brasil – na casa dos US$ 180 bilhões – o coloca em melhor situação no caso de agravamento da crise. Como a crise americana provoca aversão ao risco, os investidores em ações preferem fugir das incertezas das Bolsas e aplicar em investimentos mais seguros. Os estrangeiros que aplicam em mercados emergentes, como o Brasil, vendem seus papéis para compensar perdas obtidas em outros mercados. Com muita gente ofertando os seus créditos, o preço dos papéis se desvaloriza e alimenta a crise. E assim vai se repetindo. Se ela se estabelecer teremos desemprego, inflação, achatamento salarial, etc e tal e uma caçada aos culpados. A vítima: o povo.
Gilberto Luís Fernandes Monteiro
Funcionário do BB – Dir. SEEB/RN