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Nacional: Fusão entre Sadia e Perdigão pode ser prejudicial ao consumidor

19/05/09

A compra da Sadia pela Perdigão, anunciada na manhã desta terça-feira, pode ser prejudicial ao consumidor se não for bem monitorada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), segundo opinião de entidades de defesa do consumidor consultadas pelo UOL.

A coordenadora institucional da Fundação ProTeste, Maria Inês Dolci, explica que a união das duas gigantes do setor alimentício vai tirar o poder de escolha do consumidor porque vai criar uma concentração de mercado e diminuir a concorrência. "Será preciso que existam regras bastante claras e rígidas por parte do Cade para que o consumidor não seja prejudicado, porque será difícil uma outra empresa fazer frente a um meganegócio como este", diz.

Na opinião do diretor executivo do Procon de São Paulo, Roberto Pfeiffer, embora a Sadia e a Perdigão devam reunir uma série de argumentos para aprovar a operação junto ao órgão de regulação, o negócio não pode ser feito para gerar perdas para o consumidor. "Existe o lado positivo de criar uma grande empresa exportadora que se posicione bem no mundo e traga mais divisas para o país, mas essa conta não pode ser feita às custas do consumidor. Se em determinados mercados os ganhos de escala não puderem ser repassados para o consumidor devido a ausência de concorrentes, o Cade terá que estipular limites", afirma.

Entre as restrições, Pfeiffer sugere a venda de ativos para outra empresa ou a criação de uma nova marca. Em relação aos preços, o diretor explica que a tendência seria de queda, mas, como o objetivo das empresas é de elevar o lucro, o consumidor pode pagar mais caro pelos produtos. "Em toda operação de grande porte ocorre redução de custos principalmente pelo aumento dos ganhos de escala porque as empresas ganham mais barganha para negociar com fornecedor. Mas o fato de reduzir custos não significa o repasse imediato ao consumidor. Eliminando a concorrência, pode até ser que as empresas aumentem o valor de seus produtos para gerar mais ganhos no balanço", diz.

Segundo Maria Inês, não se pode proibir aumento de preços, então, ela orienta que o consumidor troque de marca caso o valor dos produtos comece a ficar abusivo.

"Tenho percebido que nesses grandes negócios o consumidor sempre acaba perdendo no começo. Ele perde em preço e em aspectos de direito como cidadão. O consumidor é a parte vulnerável, por isso,se o preço estiver mais caro, ele terá que deixar de comprar", afirma.

Fusão
O presidente dos Conselhos de Administração de Perdigão e Sadia, Nildemar Secches e Luiz Fernando Furlan, anunciaram oficialmente em entrevista nesta terça-feira (19), em São Paulo, a criação da Brasil Foods (BRF), resultante da fusão das duas empresas.

A nova empresa foi apresentada por Secches como "a grande multinacional brasileira de alimentos brasileiros processados". Furlan emendou que a BRF poderá ser, no curto prazo, "o maior exportador de carne processada do mundo". A Brasil Foods, entretanto, terá apenas a função institucional, sem a função de substituir qualquer das marcas do grupo.

No esquema desenhado para a fusão, a Brasil Foods será a sucessora da Perdigão. Os acionistas das duas empresas se tornarão acionistas da BRF e a Sadia se tornará, em um primeiro momento, subsidiária da nova empresa. Durante esse período, Sadia e BRF terão conselhos compostos pelos mesmos membros.

Sadia e Perdigão chegaram a trabalhar juntas no início da década na Brazilian Foods, uma associação para o mercado externo que não vingou. Em 2006, a Sadia, então maior, lançou oferta pela Perdigão. Desde então, a Perdigão comprou concorrentes menores e avançou em lácteos, com a incorporação da Eleva e da Batavo, ganhando tamanho.

Marcas e mudanças
Para apresentar a nova empresa ao público, e assegurar que os produtos que ele conhece continuarão no mercado, a Brasil Foods colocará no ar a partir desta quarta-feira (20) uma campanha publicitária estrelada pela atriz Marieta Severo (do seriado "A Grande Família", da TV Globo).

Já a atual estrela da campanha da Sadia - personagem que zomba das demais marcas - deve perder espaço: "O Juvenal vai embora ou vai mudar de foco", disse o executivo da Sadia. "O tempo da alfinetada acabou, agora é só amor", brincou Nildemar Secches.

"A BRF vai dar a face para os segmentos institucionais. As marcas têm sua vida, sua comunicação própria. Vamos continuar com Perdigão, Sadia, Qualy, Doriana, Batavo", ressaltou o executivo da Perdigão.

"No mercado interno, as marcas hoje e sempre vão continuar. São marcas com um grande conhecimento." "Do ponto de vista comercial, os consumidores não vão sentir nada no dia seguinte, todas as marcas estarão lá", acrescentou Furlan.

No mercado externo, o presidente do Conselho da Perdigão afirma que será feito um estudo para definir qual segmento será explorado por cada uma das denominações.

De acordo com dados divulgados durante a entrevista, Sadia e Perdigão operam comercialmente em 110 países. "Quase metade do nosso faturamento vem do exterior", afirmou Secches. A nova empresa já nasce líder em alimentos processados no país, com cerca de 120 mil funcionários.