Apesar
de ser o berço do Dia do Trabalho, os Estados Unidos não têm a tradição
de baixar as portas do comércio, nem fechar fábricas e escolas, como
ocorre em quase todo o mundo. Ontem, porém, os manifestantes do
movimento Occupy Wall Street mudaram este cenário, confiantes no lema
que disseminam desde o ano passado: "Nós somos os 99% e podemos mudar o
mundo".
Após uma pausa devido ao rigoroso inverno no hemisfério norte, o
movimento que protesta contra o sistema financeiro internacional e se
espalhou pelo globo em 2011 voltou à ativa neste 1º de maio, com uma
manifestação sem precedentes em Nova York.
O recado já havia sido dado, como noticiado no Opera Mundi: não ao
consumo, ao trabalho, à escola. E eles cumpriram o que prometeram.
Jovens, famílias inteiras com bebês de colo, idosos, mendigos, hipsters e
engravatados ocuparam as ruas de Manhattan pacificamente, com
guitarras, violões, bandeiras, cartazes, discursos, canções e gritos de
protesto no simbólico 'feriado'.
O movimento, que foi alvo de uma articulada repressão por parte da
polícia norte-americana - que evacuou todos os ocupantes de suas bases,
proibindo-os de ali voltarem a acampar - renasceu.
A iniciativa começou cedo, com a ocupação do Bryan Park, na rua 42 com a
6a Avenida. O Occupy ainda realizou ações pontuais em alguns pontos de
comércio e bancos (os vilões da crise americana de 2008, ajudados por
Barack Obama para não quebrarem). Cartões-postais, como a ponte de
Williamsburg, também foram ocupados.
Por volta das 14h (15h no horário de Brasília), centenas saíram em
direção à Union Square, tomando a 5a Avenida, o símbolo-mor do
consumismo nova-iorquino. Sempre acompanhados pela polícia, eles
respeitaram até a rua 33 o cercadinho humano que os impossibilitava de
tomar - literalmente - a avenida.
Dado instante, porém, a multidão ficou irrefreável. A polícia perdeu o
controle da situação - e a 5a Avenida foi, literalmente, ocupada. A
liberdade, contudo, durou pouco, segundos. Centenas de policiais
voltaram a cercar alguns manifestantes e prende-los
Grande parcela dos 'ocupadores', entretanto, deu continuidade à
caminhada e, por volta das 15h, já dominavam a Union Square, monitorada
pelos homens da NYPD (o departamento de polícia de Nova York). "Loucura,
era disso que eu estava falando", dizia uma das manifestantes à amiga
que empunhava a bandeira da anarquia, correndo em direção à praça. Lá,
os discursos - e reivindicações - se misturavam, chamando atenção para
os mais distintos assuntos: aborto, imigração, drogas, direitos de GLBT,
cadeirantes. Todos, no fim, desembocavam no mesmo grito: o fim do
capitalismo e dos privilégios ao 1% mais rico da população.
Encontro de classes
A professora Suzane, de 65 anos, que se recusou a dar o sobrenome por
medo de retaliação, exaltou o Occupy como a "única salvação" para o
sistema atual. "O dia de hoje é crucial para a história dos Estados
Unidos. A única salvação para todo o mundo é a ocupação em Wall Street.
Você tem aqui ricos, pobres, jovens e idosos, fora um monte de gente que
não está aqui por medo de perderem seus trabalhos: gente da minha
família inclusive. Em 65 anos nunca vi nada igual", declarou Suzane.
Para a professora, o movimento é, sobretudo, "apolítico". "Democratas ou
republicanos, nós já vimos que nada acontece. A mídia, que deveria dar
atenção a isso, é controlada pelo [Rupert] Murdoch, nada é noticiado.
Por isso estamos aqui". O jovem William, de 29 anos, que trabalha como
operário em construção (e também se recusou a dar seu sobrenome),
atendeu ao clamor do lema do "May Day" e "enforcou" o dia de trabalho
para se juntar ao Occupy. Ele ressaltou a importância dos jovens - e da
união com as diversas faixas etárias, raças e classes sociais.
William, entretanto, lembrou o medo de um grande número de trabalhadores
que poderiam se juntar à causa e não o fazem por preverem represálias.
"Eu acredito no Occupy, mas só não sei se ele consegue ser efetivo com
esse número que temos aqui manifestando", disse.
A tese de represália - "num mundo cruelmente corporativista", como
pontuou Suzane - faz sentido. Diversos policiais empunhavam câmeras
durante o manifesto - e, claro, que com intenções outras que a mera
curiosidade ou o puro registro. Se negavam, no entanto, a explicar o uso
da máquina.
Rumo ao coração financeiro
Por volta das 16h30, um chamado do palco convocou as milhares de pessoas
que ocupavam a Union Square e seus arredores para seguir em marcha ao
Zucotti Park, em Wall Street, onde tudo começou. Os manifestantes
passaram pela Broadway, interditando uma das principais avenidas de
Manhattan, em meio às diversas grifes que pipocam pelo miolo do
sofisticado bairro do SoHo. Moradores, turistas e comerciantes, em sua
maioria, fotogravam, comentavam, aplaudiam. Outros, fechavam as portas,
como uma loja da rede Starbucks.
A nova-iorquina Margie, 61 anos, dava de ombros ao cerco policial e
sorria em meio à multidão, já a caminho do coração financeiro da cidade.
Dizia-se feliz por participar e interagir com o ato "histórico". "O que
está acontecendo aqui é muito importante. E essa união, especialmente,
pode mudar muita coisa. Eu espero que mude".
Entretanto, nem tudo foram flores. Ainda no caminho, um policial
questionado sobre como reagiriam quando os manifestantes chegassem a
Wall Street, alterara: "Isso certamente não vai acabar bem".
A exemplo de outras iniciativas do Occupy, como a caminhada na Ponte do
Brooklyn e a marcha do Occupy Times Square, dezenas de manifestantes
foram presos. A reportagem presenciou duas detenções, com direito a
algemas e camburão. Uma das manifestantes presas, perguntada por alguém
da imprensa porque estava sendo detida, limitou-se a responder, quase em
silêncio, "porque eu sou contra".
Próxima parada: Europa
Cidades como Paris também fizeram seu grito de resistência no 1o de
Maio, mas foi apenas um 'esquenta' para a grande rede que irá se
propagar em toda a Europa entre 12 a 15 de maio, quando eles prometem
reativar a 'revolução espanhola' (que dominou as ruas e o Twitter com o
hashtag #spanishrevolution no mesmo período do ano passado).
O Occupy Wall Street, aliás, foi inspirado nos "indignados" espanhóis,
que agregava o mesmo caldeirão de pessoas para se voltar contra o
sistema.
Com o agravante da situação econômica na Europa - ainda pior que nos
Estados Unidos -, a Espanha promete ser outra vez o epicentro do
movimento. O país, onde uma em cada quatro pessoas está desempregada,
vai fazer barulho. "O 'May Day' foi histórico e voltou para ficar. Mas a
Europa vai queimar", aposta o médico brasileiro Alexandre Carvalho, um
dos idealizadores do Occupy.
Apesar
de ser o berço do Dia do Trabalho, os Estados Unidos não têm a tradição
de baixar as portas do comércio, nem fechar fábricas e escolas, como
ocorre em quase todo o mundo. Ontem, porém, os manifestantes do
movimento Occupy Wall Street mudaram este cenário, confiantes no lema
que disseminam desde o ano passado: "Nós somos os 99% e podemos mudar o
mundo".
Após uma pausa devido ao rigoroso inverno no hemisfério norte, o
movimento que protesta contra o sistema financeiro internacional e se
espalhou pelo globo em 2011 voltou à ativa neste 1º de maio, com uma
manifestação sem precedentes em Nova York.
O recado já havia sido dado, como noticiado no Opera Mundi: não ao
consumo, ao trabalho, à escola. E eles cumpriram o que prometeram.
Jovens, famílias inteiras com bebês de colo, idosos, mendigos, hipsters e
engravatados ocuparam as ruas de Manhattan pacificamente, com
guitarras, violões, bandeiras, cartazes, discursos, canções e gritos de
protesto no simbólico 'feriado'.
O movimento, que foi alvo de uma articulada repressão por parte da
polícia norte-americana - que evacuou todos os ocupantes de suas bases,
proibindo-os de ali voltarem a acampar - renasceu.
A iniciativa começou cedo, com a ocupação do Bryan Park, na rua 42 com a
6a Avenida. O Occupy ainda realizou ações pontuais em alguns pontos de
comércio e bancos (os vilões da crise americana de 2008, ajudados por
Barack Obama para não quebrarem). Cartões-postais, como a ponte de
Williamsburg, também foram ocupados.
Por volta das 14h (15h no horário de Brasília), centenas saíram em
direção à Union Square, tomando a 5a Avenida, o símbolo-mor do
consumismo nova-iorquino. Sempre acompanhados pela polícia, eles
respeitaram até a rua 33 o cercadinho humano que os impossibilitava de
tomar - literalmente - a avenida.
Dado instante, porém, a multidão ficou irrefreável. A polícia perdeu o
controle da situação - e a 5a Avenida foi, literalmente, ocupada. A
liberdade, contudo, durou pouco, segundos. Centenas de policiais
voltaram a cercar alguns manifestantes e prende-los
Grande parcela dos 'ocupadores', entretanto, deu continuidade à
caminhada e, por volta das 15h, já dominavam a Union Square, monitorada
pelos homens da NYPD (o departamento de polícia de Nova York). "Loucura,
era disso que eu estava falando", dizia uma das manifestantes à amiga
que empunhava a bandeira da anarquia, correndo em direção à praça. Lá,
os discursos - e reivindicações - se misturavam, chamando atenção para
os mais distintos assuntos: aborto, imigração, drogas, direitos de GLBT,
cadeirantes. Todos, no fim, desembocavam no mesmo grito: o fim do
capitalismo e dos privilégios ao 1% mais rico da população.
Encontro de classes
A professora Suzane, de 65 anos, que se recusou a dar o sobrenome por
medo de retaliação, exaltou o Occupy como a "única salvação" para o
sistema atual. "O dia de hoje é crucial para a história dos Estados
Unidos. A única salvação para todo o mundo é a ocupação em Wall Street.
Você tem aqui ricos, pobres, jovens e idosos, fora um monte de gente que
não está aqui por medo de perderem seus trabalhos: gente da minha
família inclusive. Em 65 anos nunca vi nada igual", declarou Suzane.
Para a professora, o movimento é, sobretudo, "apolítico". "Democratas ou
republicanos, nós já vimos que nada acontece. A mídia, que deveria dar
atenção a isso, é controlada pelo [Rupert] Murdoch, nada é noticiado.
Por isso estamos aqui". O jovem William, de 29 anos, que trabalha como
operário em construção (e também se recusou a dar seu sobrenome),
atendeu ao clamor do lema do "May Day" e "enforcou" o dia de trabalho
para se juntar ao Occupy. Ele ressaltou a importância dos jovens - e da
união com as diversas faixas etárias, raças e classes sociais.
William, entretanto, lembrou o medo de um grande número de trabalhadores
que poderiam se juntar à causa e não o fazem por preverem represálias.
"Eu acredito no Occupy, mas só não sei se ele consegue ser efetivo com
esse número que temos aqui manifestando", disse.
A tese de represália - "num mundo cruelmente corporativista", como
pontuou Suzane - faz sentido. Diversos policiais empunhavam câmeras
durante o manifesto - e, claro, que com intenções outras que a mera
curiosidade ou o puro registro. Se negavam, no entanto, a explicar o uso
da máquina.
Rumo ao coração financeiro
Por volta das 16h30, um chamado do palco convocou as milhares de pessoas
que ocupavam a Union Square e seus arredores para seguir em marcha ao
Zucotti Park, em Wall Street, onde tudo começou. Os manifestantes
passaram pela Broadway, interditando uma das principais avenidas de
Manhattan, em meio às diversas grifes que pipocam pelo miolo do
sofisticado bairro do SoHo. Moradores, turistas e comerciantes, em sua
maioria, fotogravam, comentavam, aplaudiam. Outros, fechavam as portas,
como uma loja da rede Starbucks.
A nova-iorquina Margie, 61 anos, dava de ombros ao cerco policial e
sorria em meio à multidão, já a caminho do coração financeiro da cidade.
Dizia-se feliz por participar e interagir com o ato "histórico". "O que
está acontecendo aqui é muito importante. E essa união, especialmente,
pode mudar muita coisa. Eu espero que mude".
Entretanto, nem tudo foram flores. Ainda no caminho, um policial
questionado sobre como reagiriam quando os manifestantes chegassem a
Wall Street, alterara: "Isso certamente não vai acabar bem".
A exemplo de outras iniciativas do Occupy, como a caminhada na Ponte do
Brooklyn e a marcha do Occupy Times Square, dezenas de manifestantes
foram presos. A reportagem presenciou duas detenções, com direito a
algemas e camburão. Uma das manifestantes presas, perguntada por alguém
da imprensa porque estava sendo detida, limitou-se a responder, quase em
silêncio, "porque eu sou contra".
Próxima parada: Europa
Cidades como Paris também fizeram seu grito de resistência no 1o de
Maio, mas foi apenas um 'esquenta' para a grande rede que irá se
propagar em toda a Europa entre 12 a 15 de maio, quando eles prometem
reativar a 'revolução espanhola' (que dominou as ruas e o Twitter com o
hashtag #spanishrevolution no mesmo período do ano passado).
O Occupy Wall Street, aliás, foi inspirado nos "indignados" espanhóis,
que agregava o mesmo caldeirão de pessoas para se voltar contra o
sistema.
Com o agravante da situação econômica na Europa - ainda pior que nos
Estados Unidos -, a Espanha promete ser outra vez o epicentro do
movimento. O país, onde uma em cada quatro pessoas está desempregada,
vai fazer barulho. "O 'May Day' foi histórico e voltou para ficar. Mas a
Europa vai queimar", aposta o médico brasileiro Alexandre Carvalho, um
dos idealizadores do Occupy.
Apesar
de ser o berço do Dia do Trabalho, os Estados Unidos não têm a tradição
de baixar as portas do comércio, nem fechar fábricas e escolas, como
ocorre em quase todo o mundo. Ontem, porém, os manifestantes do
movimento Occupy Wall Street mudaram este cenário, confiantes no lema
que disseminam desde o ano passado: "Nós somos os 99% e podemos mudar o
mundo".
Após uma pausa devido ao rigoroso inverno no hemisfério norte, o
movimento que protesta contra o sistema financeiro internacional e se
espalhou pelo globo em 2011 voltou à ativa neste 1º de maio, com uma
manifestação sem precedentes em Nova York.
O recado já havia sido dado, como noticiado no Opera Mundi: não ao
consumo, ao trabalho, à escola. E eles cumpriram o que prometeram.
Jovens, famílias inteiras com bebês de colo, idosos, mendigos, hipsters e
engravatados ocuparam as ruas de Manhattan pacificamente, com
guitarras, violões, bandeiras, cartazes, discursos, canções e gritos de
protesto no simbólico 'feriado'.
O movimento, que foi alvo de uma articulada repressão por parte da
polícia norte-americana - que evacuou todos os ocupantes de suas bases,
proibindo-os de ali voltarem a acampar - renasceu.
A iniciativa começou cedo, com a ocupação do Bryan Park, na rua 42 com a
6a Avenida. O Occupy ainda realizou ações pontuais em alguns pontos de
comércio e bancos (os vilões da crise americana de 2008, ajudados por
Barack Obama para não quebrarem). Cartões-postais, como a ponte de
Williamsburg, também foram ocupados.
Por volta das 14h (15h no horário de Brasília), centenas saíram em
direção à Union Square, tomando a 5a Avenida, o símbolo-mor do
consumismo nova-iorquino. Sempre acompanhados pela polícia, eles
respeitaram até a rua 33 o cercadinho humano que os impossibilitava de
tomar - literalmente - a avenida.
Dado instante, porém, a multidão ficou irrefreável. A polícia perdeu o
controle da situação - e a 5a Avenida foi, literalmente, ocupada. A
liberdade, contudo, durou pouco, segundos. Centenas de policiais
voltaram a cercar alguns manifestantes e prende-los
Grande parcela dos 'ocupadores', entretanto, deu continuidade à
caminhada e, por volta das 15h, já dominavam a Union Square, monitorada
pelos homens da NYPD (o departamento de polícia de Nova York). "Loucura,
era disso que eu estava falando", dizia uma das manifestantes à amiga
que empunhava a bandeira da anarquia, correndo em direção à praça. Lá,
os discursos - e reivindicações - se misturavam, chamando atenção para
os mais distintos assuntos: aborto, imigração, drogas, direitos de GLBT,
cadeirantes. Todos, no fim, desembocavam no mesmo grito: o fim do
capitalismo e dos privilégios ao 1% mais rico da população.
Encontro de classes
A professora Suzane, de 65 anos, que se recusou a dar o sobrenome por
medo de retaliação, exaltou o Occupy como a "única salvação" para o
sistema atual. "O dia de hoje é crucial para a história dos Estados
Unidos. A única salvação para todo o mundo é a ocupação em Wall Street.
Você tem aqui ricos, pobres, jovens e idosos, fora um monte de gente que
não está aqui por medo de perderem seus trabalhos: gente da minha
família inclusive. Em 65 anos nunca vi nada igual", declarou Suzane.
Para a professora, o movimento é, sobretudo, "apolítico". "Democratas ou
republicanos, nós já vimos que nada acontece. A mídia, que deveria dar
atenção a isso, é controlada pelo [Rupert] Murdoch, nada é noticiado.
Por isso estamos aqui". O jovem William, de 29 anos, que trabalha como
operário em construção (e também se recusou a dar seu sobrenome),
atendeu ao clamor do lema do "May Day" e "enforcou" o dia de trabalho
para se juntar ao Occupy. Ele ressaltou a importância dos jovens - e da
união com as diversas faixas etárias, raças e classes sociais.
William, entretanto, lembrou o medo de um grande número de trabalhadores
que poderiam se juntar à causa e não o fazem por preverem represálias.
"Eu acredito no Occupy, mas só não sei se ele consegue ser efetivo com
esse número que temos aqui manifestando", disse.
A tese de represália - "num mundo cruelmente corporativista", como
pontuou Suzane - faz sentido. Diversos policiais empunhavam câmeras
durante o manifesto - e, claro, que com intenções outras que a mera
curiosidade ou o puro registro. Se negavam, no entanto, a explicar o uso
da máquina.
Rumo ao coração financeiro
Por volta das 16h30, um chamado do palco convocou as milhares de pessoas
que ocupavam a Union Square e seus arredores para seguir em marcha ao
Zucotti Park, em Wall Street, onde tudo começou. Os manifestantes
passaram pela Broadway, interditando uma das principais avenidas de
Manhattan, em meio às diversas grifes que pipocam pelo miolo do
sofisticado bairro do SoHo. Moradores, turistas e comerciantes, em sua
maioria, fotogravam, comentavam, aplaudiam. Outros, fechavam as portas,
como uma loja da rede Starbucks.
A nova-iorquina Margie, 61 anos, dava de ombros ao cerco policial e
sorria em meio à multidão, já a caminho do coração financeiro da cidade.
Dizia-se feliz por participar e interagir com o ato "histórico". "O que
está acontecendo aqui é muito importante. E essa união, especialmente,
pode mudar muita coisa. Eu espero que mude".
Entretanto, nem tudo foram flores. Ainda no caminho, um policial
questionado sobre como reagiriam quando os manifestantes chegassem a
Wall Street, alterara: "Isso certamente não vai acabar bem".
A exemplo de outras iniciativas do Occupy, como a caminhada na Ponte do
Brooklyn e a marcha do Occupy Times Square, dezenas de manifestantes
foram presos. A reportagem presenciou duas detenções, com direito a
algemas e camburão. Uma das manifestantes presas, perguntada por alguém
da imprensa porque estava sendo detida, limitou-se a responder, quase em
silêncio, "porque eu sou contra".
Próxima parada: Europa
Cidades como Paris também fizeram seu grito de resistência no 1o de
Maio, mas foi apenas um 'esquenta' para a grande rede que irá se
propagar em toda a Europa entre 12 a 15 de maio, quando eles prometem
reativar a 'revolução espanhola' (que dominou as ruas e o Twitter com o
hashtag #spanishrevolution no mesmo período do ano passado).
O Occupy Wall Street, aliás, foi inspirado nos "indignados" espanhóis,
que agregava o mesmo caldeirão de pessoas para se voltar contra o
sistema.
Com o agravante da situação econômica na Europa - ainda pior que nos
Estados Unidos -, a Espanha promete ser outra vez o epicentro do
movimento. O país, onde uma em cada quatro pessoas está desempregada,
vai fazer barulho. "O 'May Day' foi histórico e voltou para ficar. Mas a
Europa vai queimar", aposta o médico brasileiro Alexandre Carvalho, um
dos idealizadores do Occupy.