Diretor-executivo da Transparência Brasil, uma das ONGs de controle
do poder e de combate a corrupção mais importantes do país, o
jornalista Claudio Weber Abramo avalia que a manutenção de mandato aos
condenados no mensalão aprofunda o fosso entre sociedade e Congresso e
justifica o descrédito nos políticos. Ele afirma que o silêncio do
legislativo que, em vez de pressionar pela renúncia de João Paulo Cunha
(PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) ainda
empossou José Genoino (PT-SP), configura uma crise institucional séria
envolvendo Câmara e Senado e revela uma constrangedora realidade: “Falta
vergonha na cara ao conjunto da instituição”, lamenta Abramo nessa
entrevista ao Poder Online.
Que avaliação o senhor faz da manutenção dos mandatos dos condenados no mensalão?
O absurdo é a lentidão da justiça, que pode demorar até um ano para
concluir o julgamento. Isso significa que até lá, formalmente, eles
podem exercer.
O que eles deveriam ter feito?
É óbvio que se tivessem vergonha na cara, o que eles não têm, teriam renunciado.
A posse de Genoino constrange o Congresso?
Se fosse constrangedor teria aparecido algum tipo de pressão para
evitar a posse (de Genoino) e a manutenção dos mandatos dos outros. Mas
não houve. Isso mostra o quanto está desacreditado o ambiente político
brasileiro.
O que isso significa?
Justifica a falta de confiança generalizada não só no Congresso
como nos partidos políticos. Configura uma crise institucional séria,
envolvendo todo o poder Legislativo brasileiro.
O senhor esperava alguma reação no Congresso contra a permanência dos condenados?
Não. Dos congressistas sempre espero o pior. Falta vergonha na cara ao conjunto da instituição.
Que efeito pode ter na luta contra a corrupção?
É claro que ajudar a melhorar as coisas, não ajuda.
Que tipo de trabalho esses deputados podem desempenhar?
O que façam ou deixem de fazer é irrelevante. O que é relevante é a
manutenção deles – como de dezenas de outros já condenados em segunda
instância por crimes diversos – no Legislativo.
Não soa surreal o PT defendendo agora a reforma política?
É na verdade completamente lógico. Explico: a ideia de proibir o
financiamento privado em eleições (o financiamento público exclusivo) é
filhote do mensalão. Como apareceram com a desculpa de que as propinas
pagas tinham a ver com caixa 2 eleitoral (não tinham, como se provou),
inventaram que o financiamento privado de eleições foi o motivador do
esquema.
Agora, os idealizadores dessa estratégia que já se revelou furada
continuam a insistir na coisa porque carrega água para o moinho de que
as condenações do processo do mensalão teriam sido políticas.
Em outras palavras, essa história não passa de jogo de cena. O que não quer dizer que o financiamento eleitoral brasileiro não tenha problemas sérios – mas esse é outro assunto.