O Banco do Brasil já maquia resultados há alguns anos; e isso não é novidade para ninguém. Para os estupefatos incrédulos e até histéricos com tal afirmação, só tenho uma coisa a dizer: Superávit da Previ. Acho que é o bastante para qualquer funcionário do Banco entender o que estou falando, principalmente o pessoal que ingressou antes de 1998, que, aliás, também recebem os bônus disso, porém, de maneira escalonada; já a dita “parte do Banco” – que não é do banco coisíssima nenhuma, pois trata-se de um valor referente a um benefício pago, mas não entraremos aqui na discussão desse mérito – o Banco injeta de uma só vez o superávit no seu lucro anual.
Porém, aconteceu na belíssima cidade Suíça de Basiléia, mais um encontro (de revisão) em 2010, conhecido como Basiléia III, em que o grupo dos G20 preocupados em construir uma economia estável, erigida sob bases sólidas, conclama e obriga os Bancos Centrais desses países a aderirem a muitas severas regras, na tentativa de impedir maquilagens e cenários irreais, pois com a economia globalizada, uma quebra aqui repercute numa quebra lá, é o famoso efeito dominó – isso tudo para ser feito entre 2013 e 2015. Pois bem, os lançamentos contábeis utilizados pelo BB, referente a supostos ganhos provindos da Previ, não foram aceitos como legítimos pela comunidade internacional, foram considerados ilegais.
Diante disso, os dirigentes irresponsáveis, imediatistas, rasteiros e desqualificados do Banco do Brasil (- Será que esses homens têm as qualificações necessárias para os cargos que ocupam?), tiveram mais uma brilhante idéia: reduzir salários e saquear mais um cofre alheio, as reservas depositadasbloqueadas de bilhões, referente aos depósitos judiciais do que é talvez o maior passivo trabalhista da história da instituição – o Banco do Brasil é o segundo (segundo!!!???) colocado no ranking do TST – Tribunal Superior do Trabalho, em números de condenações. Os trabalhadores “negociando” individualmente o valor que lhe cabe, referente duas horas extras não pagas, todos os dias durante cinco anos, por 10% 15% do montante a que tem direito, dariam exatamente o que essas rapinas, que ocupam os cargos de comando, estavam precisando para salvar o balanço 2013 do BB – garfando 85%, 90% da massa estratosférica de bilhões reservados por ordem e imposição da justiça.
A folha corrida do Banco do Brasil no TST parece mais um pergaminho egípcio, se você for imprimir por algum motivo, certifique-se de que realmente é necessário, tendo em vistas as responsabilidades sócio ambientais, e se você realmente possui tinta e papel suficiente – é vergonhoso. E mais vergonhoso é ver revistas financeiras e de negócios renomadas colocar o Banco como uma das melhores empresas para se trabalhar e que segue e respeita códigos de ética e de responsabilidade social. Mais vergonhoso ainda é ver instituições de renome e importância internacional do mercado financeiro classificar em níveis de excelência essa instituição desrespeitadora de Leis. Tudo pago como mecanismo não apenas de Marketing, mas mais do que isso, mecanismos ideológicos.
Colocadas as mãos nas reservas da bolsa do próximo, não havia necessidade alguma da “renomada” instituição diminuir salários. Ora, isso é uma discussão já resolvida lá atrás nos anos que se seguem pós Revolução Industrial – Meu Deus! – esses dirigentes além de não entenderem nada de Mercado Financeiro (pois se entendessem dariam lucros sem a necessidade de subterfúgios), nada de Compliance no mundo corporativo, nada sobre Risco Legal, Risco de Imagem, conhecimentos jurídicos básicos, nada de Gestão de Pessoas, et al; também não estudaram os rudimentos de História no ensino médio.
Os estudos de Paul Lafargue no período que procede a Revolução Industrial nos legam preciosas informações sobre adequações em jornadas de trabalho. As diminuições necessárias a determinada função, região, contexto, invariavelmente, talvez contrariando expectativas, aumentam a produção. Em 1860, um dos maiores manufatureiros da Alsácia, o Sr Boucart, de Guebwiller declarou:
“O dia de trabalho (...) deve ser reduzido (...). Posso aconselhar a adoção desta medida, embora pareça onerosa a primeira vista; nós a experimentamos nos nossos estabelecimentos industriais há já quatro anos e nos demos bem com ela, e a produção média longe de diminuir, aumentou.”
Em outro trecho do seu trabalho Lafargue nos traz trecho de uma carta (desabafo) de um grande industrial Belga, O Sr. M. Ottavaere: “As nossas máquinas, apesar de serem iguais ás das fábricas de fiação inglesas, não produzem o que deveriam produzir e o que produziriam essas mesmas máquinas na Inglaterra, embora as fábricas de fiação funcionem menos duas horas por dia. nós trabalhamos todos duas longas horas a mais; estou convencido de que” – se trabalhássemos duas horas a menos – teríamos a mesma produção e, por conseguinte, produziríamos mais economicamente.”
Outra pérola que nos traz Paul Lafargue do universo pós Revolução Industrial para enriquecer questões de diminuiçãoadequação de jornadas de trabalho – depoimento de outro capitalista, o Sr. Leroy-Beaulieu: “Um grande manufatureiro Belga observou muito bem que nas semanas em que calha um dia de feriado a produção não é inferior às das semanas normais.”
Paralelo a esse espernear do Banco em cumprir a CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, ele lança mão do que há de mais vil no sistema capitalista para obrigar o homem a trabalhar mais, pagar menos e sem reclamar, pois a imposição legal do trabalho tem seus embaraços e exige demasiado esforço, demasiado estardalhaço e até demasiada violência, enquanto que a fome – é, a fome, não se espantem - a fome, pelo contrário, não é só pressão pacífica, silenciosa e eficaz, como também o motivo mais natural do trabalho, ela provoca os mais poderosos esforços. Temos fome e queremos comer, não temos a moeda, mas lembrem-se, apesar de sermos necessitados, fomos nós que aramos, ceifamos e demos lucros ao Banco.
Fonte: Frente Nacional de Oposição Bancária