São seis trabalhadores. Chegaram a São Paulo em busca de uma vida melhor para suas famílias. “Lá em Barra não tem trabalho”, diz um deles referindo-se a cidade de onde vieram, a 180 km de Teresina (PI). Dois vieram há cinco meses para Poá, na região metropolitana de São Paulo. Francisco Jesus Brito, 32 anos, e Antonio José da Silva, 25 anos. Foi Francisco quem chamou os outros quatro, que vieram três meses depois. “Somos tudo da mesma família: primos, cunhados”, diz. A proposta de salário de R$ 1.045 parecia criar perspectivas para quem tem dificuldades de sustentar uma família no interior do Piauí. Assim, Francisco e Antonio chamaram mais quatro parentes para vir trabalhar em São Paulo: Francisco de Souza Araújo, 24 anos, Francisco José dos Santos Lima, 18 anos, Carlos Augusto Alves de Souza, 24 anos, e Patrício Alves de Souza, 19 anos. O que era uma perspectiva de melhoria de vida tornou-se um filme de terror para esses seis operários nordestinos na metrópole paulista. As péssimas condições de trabalho, impostas pelo empregador, os obrigavam a cavar horas a fio sob o sol quente em buracos de quase dois metros de profundidade, receber ameaça de demissão por justa causa por sair 20 minutos antes do horário determinado para almoço ou ainda as péssimas condições em que Carlos Augusto passava as suas noites, em um colchonete no chão, pois não havia estrado na cama na qual deveria dormir. Com apenas um uniforme e uma bota para trabalhar, quatro deles ainda não receberam seus salários, apenas uma ajuda de custo de R$ 150 para passar o final de ano. Francisco e Antonio, com cinco meses, receberam apenas três meses. Em dezembro, receberam dinheiro para passar o final de ano com a família – ambos têm mulher e filhos –, mas não receberam o dinheiro para voltar. O descaso e os abusos, aos poucos, fizeram com que esses trabalhadores ligassem para um amigo seu, também do Piauí, que tem mais experiência com esses problemas. Foram orientados a entrar em contato com a CSP-Conlutas. Assim, ligaram para o dirigente Atnágoras Lopes e reclamaram daquela situação. Essa iniciativa foi recebida com ameaça pelo dono da empreiteira, chamado Joaquim. “Ele disse que ia encher a nossa cabeça de bala se a gente desse parte no sindicato”, diz Francisco Brito em tom de denúncia, mas assustado e também sentindo-se humilhado. As empresas denunciadas são a Empreiteira Netão de Construções LTDA e Construtora e Incorporadora Fareinos. Insatisfeito com essa ameaça, Joaquim levou para o canteiro de obra um “estranho” com o objetivo de intimidar e vigiar os trabalhadores. Essa situação levou os operários a pedir que o patrão lhes pagasse seus salários e direitos para que pudessem voltar para suas casas. O empreiteiro disse que se quisessem as contas teriam de pedir a demissão. “Eu pago na consciência, na briga, na bala”, ameaçou. Esses trabalhadores estão bastante assustados e desiludidos. Falam muito pouco. É Francisco Brito quem é o porta-voz. “A nossa situação é ruim demais; me sinto magoado de ter vindo pra cá e ser ameaçado desse jeito”, lamenta com lágrimas nos olhos. Não querem muito, apenas receber o que lhes é direito. Pagamento dos salários, 13º, férias e que a empresa não cobre o valor de R$ 600 pelas ferramentas de trabalho. “Ele queria que a gente pagasse R$ 600 por ferramentas que nem tínhamos pegado”, diz Antonio José. Também querem voltar para casa. O superintendente regional do trabalho em São Paulo, Luiz Antônio de Medeiros, acolheu a denúncia da CSP-Conlutas e comprometeu-se em convocar imediatamente uma “mesa-redonda” para buscar uma saída para a situação. Os trabalhadores, por sua vez, aguardam ansiosos uma solução para suas vidas. Seguem abrigados e acompanhados pelo dirigente da CSP-Conlutas, Atnágoras. Esses trabalhadores são da mesma cidade dos 37 operários submetidos à situação similar e análoga à escravidão, resgatados pela CSP-Conlutas em uma obra, em Brasília, no ano passado.
Fonte: CSP Conlutas - http://cspconlutas.org.br/2014/01/resgatados-em-condicoes-analogas-a-escravidao-seis-operarios-aguardam-mediacao-convocada-pela-srt-sp/#sthash.AdeJqder.dpuf