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Assédio moral e sofrimento no trabalho

30/06/14

Os conceitos de “Assédio Moral” podem ser diferenciados por palavras, mas todos concordam ser uma conduta abusiva manifestada por comportamentos, palavras, atos, complôs em reuniões, gestos e escritos, com exposição prolongada e repetitiva, propagada em relações hierárquicas e sem ética e que traz danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física, financeira e psíquica da pessoa exposta, pondo em risco seu emprego, sua carreira e degradando o ambiente de trabalho.

Afeta negativamente a comunicação. As relações interpessoais, a identidade, a saúde profissional, social, emocional e moral do trabalhador. De forma geral ocorre entre aquele que detêm e aquele que é submetido ao poder, mas também ocorre entre indivíduos do mesmo grau de poder e participação na hierarquia. No Brasil, alguns governos federais têm trabalhado no sentido de criar uma legislação própria a respeito do assédio moral, embora não há um estudo profundo sobre os efeitos nocivos ao trabalhador.

Alguns indícios apontam para a ocorrência de assédio moral, tais como: isolamento, proibição de conversas paralelas, exclusão de atividades sociais comum à todos na empresa, comentários maliciosos e desrespeitosos, referências desrespeitosas quanto ao aspecto físico, caráter, costumes, crenças, condutas, família e outros, responsabilização de erros que outros cometeram, transmissão e ocultação de informações erradas visando prejuízo, rumores sobre a vida privada, delegação de tarefas impossíveis ou degradantes e chegando ao cúmulo, em alguns casos, da limitação do número de vezes que o trabalhador vai ao banheiro, ou não se submete ao trabalho gratuito.

A prática do assédio moral visa à desestabilização profissional da vítima, enquanto o algoz demonstra seu poder de transferir, de dar funções, de inibir, de comparar, de intimidar outros citando exemplos e afastar de si a probabilidade de competição honesta.

Sintomas psicossomáticos como dores de cabeça, cansaço crônico, insônia, irritabilidade, ansiedade, obsessões, fobias, apatias, crises de choro, déficit cognitivo, sentimento de indefeso e de culpa, vergonha, injustiça e desconfiança, perplexidade, confusão e desorientação, crises de autoestima, aumento de peso ou emagrecimento, lapsos de memória, aumento da pressão arterial, propensão ao abuso de fumo, álcool ou outras drogas, pensamentos negativos, desesperança e pessimismo.

Os prejuízos não atingem apenas a vítima, mas também a organização, sua imagem, produção, absenteísmo, qualidade e sanções, e atinge paralelamente a sociedade, tendo em vista consequências como a precarização da qualidade de vida, as crises em família e comunitárias, os custos por alguma enfermidade, compulsão para consumir, riscos de suicídio, divórcios e acima de tudo a convivência com o fantasma da desestabilização no trabalho, até aborto no caso das mulheres trabalhadoras.

As pessoas se comportam dessa maneira não por serem perversos em suas estruturas, mas porque alguém contribuiu para desenvolverem esses comportamentos inconscientes devido às gestões do trabalho e aos modos de produção. Para a psicologia organizacional o mais relevante é o sofrimento como consequência, principalmente quando a violência invisível torna mais difícil o enfrentamento, devido, muitas vezes, o comportamento ser banalizado, ignorado e oculto, gerando gradativamente o adoecimento ao constatar-se a completa falta de estratégias para enfrentá-lo.

Wilza Meireles é psicóloga, responsável técnica no instituto de promoção da Cidadania e do Bem Estar Social e Emocional.
Fonte: Vermelho.org