O ano de 2014, a exemplo do que vem ocorrendo há mais de uma década, não tem sido nada fácil para os bancários brasileiros.
Na ânsia de bater o recorde de lucro e na corrida desesperada de um banco querer superar o concorrente, sobra para o bancário não o reconhecimento pelos lucros exorbitantes conquistados para a empresa, mas sim pressão, adoecimento, exploração, assédio moral e muitos outros reflexos negativos na vida daqueles que realmente produzem os lucros: o trabalhador bancário.
O bancário, nessa situação de produzir lucro + lucro + lucro, vive num constante estado de estresse, porque as suas energias são todas direcionadas para a empresa em que trabalha. Não lhe sobra tempo para a família, para o lazer, para o estudo. Enquanto mais produz, mais o patrão acha pouco e exige mais. Para piorar, os bancários que exercem função de gerência são monitorados dia e noite, via mensagens eletrônicas e ligações telefônicas.
Nessa roda-viva, o que existe nos locais de trabalho é a desarmonia, a concorrência desleal, tudo programado pelos executivos das empresas visando o fim da solidariedade que deveria prevalecer entre os trabalhadores.
Pesquisas científicas têm chamado a atenção para o grave problema de suicídios na categoria bancária. Mas nada disso sensibiliza os banqueiros, porque dentro do capitalismo não existe humanidade. O que vale são os números. A vida é apenas um detalhe.
Um fator agravante diz respeito às constantes demissões, levando a categoria ao estado de perplexidade. Com o medo de perder o emprego, muitos se submetem ao cumprimento de normas ilegais, como: assediar o colega; explorar a mão de obra bancária, hoje cada vez mais precarizada; fazer venda casada; executar tarefas fora das instruções; explorar o cliente, levando-o a enfrentar longas filas e a pagar elevadas tarifas por um trabalho de atendimento reconhecidamente péssimo. Por outro lado, os clientes considerados ricos são atendidos com todo o conforto, em agências construídas especialmente para eles, sem falar daqueles que nem sequer necessitam ir ao banco, pois têm atendimento domiciliar. É um verdadeiro desrespeito ao consumidor, principalmente quando os bancos expulsam os “clientes pobres” das agências e os forçam a usar os tais canais alternativos.
A carência de funcionários para atenderem à demanda, tanto pela falta de contratação de novos empregados quanto pelo afastamento por motivo de doença, obriga os que estão na ativa a trabalhar por dois, três ou mais colegas, com a agravante de fazer horas extras sem a devida remuneração. Muitas horas extras não são pagas, gerando trabalho gratuito, e outras são compensadas com dia de folga, a bel-prazer do banqueiro, isto é, nem o direito de escolher o dia de folga os bancários têm, sem falar no transtorno de somente serem avisados quando já estão a caminho do trabalho, por meio de ligação telefônica do chefe informando que daquele dia não precisa ir trabalhar. É uma verdadeira humilhação, apesar da tão propalada modernização das relações trabalhistas.
Tudo isso e outros tipos de agressão causam no bancário adoecimento físico e psíquico. E quando o trabalhador necessita se ausentar por motivo de doença e procura o INSS, muitos são maltratados, humilhados e acusados pelo médico perito de estarem simulando doença.
Além disso, a demora dos banqueiros em responder aos bancários, quando estes apresentam sua pauta de negociação, demonstra claramente a falta de respeito do patrão com os seus empregados, apesar de, como já enfatizamos, serem os bancários das unidades os verdadeiros responsáveis pelos elevados lucros do setor bancário.
Para confirmar, basta lembrar que a pauta de reivindicação deste ano foi entregue no início de agosto e não tivemos resposta até agora.
Lamentavelmente, a Contraf/Cut, entidade que negocia com os banqueiros, é parceira destes e do governo federal. Assim, a Campanha Salarial dos Bancários fica muito difícil de ter um desfecho favorável à categoria. Esse é motivo das repetidas greves, ano a ano.
Se os banqueiros respeitassem os bancários, estes não necessitariam recorrer à greve para terem seus salários reajustados.
Por fim, se a grave for necessária, a culpa não é dos bancários. É dos patrões e do governo federal.