Mesmo num ano de crise como foi 2014, os cinco maiores bancos brasileiros tiveram recordes de lucro, segundo estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). As instituições ganharam com cobranças de taxas e serviços.
Segundo o levantamento, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa e Santander tiveram lucro de R$ 60,3 bilhões, o que significa18,5% a mais que em 2013. "A rentabilidade seguiu elevada nos grandes bancos, mantendo o setor financeiro entre os mais rentáveis da economia nacional e mundial", aponta o estudo.
Para o Dieese, a fórmula do sucesso veio de uma tripla combinação: os bancos aproveitaram a alta taxa Selic, incrementaram a cobrança por taxas e serviços e seguem reduzindo, a cada ano, o número de trabalhadores.
O Itaú, por exemplo, atingiu um lucro de R$ 20,6 bilhões, o maior da história de uma empresa do setor no país. Itaú e Bradesco juntos responderam por 60% do total embolsado pelos bancos.
Somente com prestação de serviços e cobrança de taxas, os cinco maiores bancos arrecadaram R$ 104,1 bilhões, 10,9% a mais que o ano anterior. O valor deu para bancar, com folga, todos os gastos com os 451 mil bancários, que em 2014 custaram R$ 74,6 bilhões --somados salários, encargos, cursos e treinamentos.
"A estratégia dos bancos privados, nos últimos anos, visou incrementar os ganhos operacionais mediante crescimento das receitas com prestação de serviços e tarifas bancárias e redução de despesas, principalmente de pessoal", analisa o Dieese.
Prova disso seria que, em 2014, esses bancos cortaram 5.104 empregos. "Santander, Bradesco, Itaú e Banco do Brasil reduziram os quadros de funcionários em 8.390 postos de trabalho. O resultado só não foi pior porque foram abertos 3.286 novos postos na Caixa", aponta o levantamento.
O lucro dos bancos brasileiros também pode ser atribuído a outros fatores, com os spreads (diferença entre a taxa que o banco paga a quem investe daquela cobrada para quem toma um financiamento) e um maior uso da tecnologia.
Para o Diesse, o aumento no lucro dos bancos também foi ajudado pela alta dos juros básicos da economia (taxa Selic). Quem define essa taxa é o Banco Central, que tem feito isso para combater a inflação. Os juros estão em 12,75% ao ano e são os maiores em seis anos.
"Tal alteração no rumo da política monetária se refletiu diretamente nos balanços dos bancos em 2014, já que esses detêm expressiva parcela (cerca de 30%) dos títulos da dívida pública federal. As receitas com títulos e valores mobiliários representam a segunda maior fonte de ganhos dos bancos, depois das receitas com as operações de crédito", diz o estudo do Dieese.
Procurados pelo UOL, Banco do Brasil, Bradesco e Santander disseram que não iriam comentar o tema. A Caixa não respondeu à reportagem. E o Itaú informou que se manifestaria pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Em nota, a Febraban afirma que o bom resultado deve-se, especialmente, a maior eficiência atingida pelo setor. "Os bancos que operam no Brasil seguem perseguindo elevados níveis de eficiência. Buscam expandir seus negócios e ampliar atuação em segmentos diversos, tais como cartões e seguros, procurando oferecer aos clientes produtos e serviços de qualidade, com rapidez e segurança. Isso tem permitindo a preservação da rentabilidade do sistema."
A Febraban afirma que o crédito no setor bancário atingiu 58,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado. "Este montante foi um recorde. Uma década atrás estava em torno de 26%. Essa expansão expressiva do crédito no país foi possível graças ao resultado dos avanços macroeconômicos, da queda da dívida pública e pelo surgimento de um novo mercado de clientes, consequência da distribuição de renda ocorrida no Brasil."
Outro fator para expansão dos lucros foi a taxa de pessoas com contas bancárias, que atingiu 60%, 18 pontos percentuais a mais que em 2013.
A federação ainda contesta os dados sobre redução de gasto com pessoal e diz que "a maior parte do valor gerado pelos bancos destina-se a remunerar seus funcionários e a sociedade como um todo, por meio do pagamento de impostos e contribuições sociais que são pagas ao governo."