No dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra no Brasil. A data foi escolhida para homenagear Zumbi dos Palmares, guerreiro negro e líder do Quilombo dos Palmares, que morreu em 20 de novembro de 1695, período do Brasil Colonial, lutando pela liberdade do seu povo. Em janeiro de 2009 a data foi incluída no calendário escolar brasileiro pela lei 10.639, que também prevê a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
Histórico
Na primeira metade do século XVI, portugueses e holandeses trouxeram africanos para servirem de mão de obra braçal escrava nas demandas da produção canavieira no Brasil, mais precisamente no Nordeste. Os africanos eram tratados como mercadoria e, dessa forma, se tornaram comércio lucrativo, pois a mão de obra também era escassa no restante do país. No ano de 1850, exatamente 155 anos após Zumbi lutar até a morte pela liberdade de seu povo, o tráfico de escravos no Brasil foi extinto com a Lei Eusébio de Queiroz. Vinte anos depois foi concedido o direito de liberdade aos filhos de escravas nascidos após a promulgação da Lei do Ventre Livre. Em 1885, a Lei Saraiva-Cotegipe foi promulgada para dar liberdade aos escravos com mais de 65 anos. Somente em 1888 a Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel para abolir completamente a escravidão no Brasil.
Mais de 355 anos
Foram mais de 355 anos de escravidão no Brasil. Mais de 355 anos de sofrimento, dor, opressão, abuso, mortes. Mais de 355 anos em que sonhos foram destruídos, famílias dilaceradas e culturas limadas. Quantas gerações não tiveram acesso à educação, a oportunidade de ter um lar, construir uma família, a ter um trabalho digno e satisfatório como qualquer outro ser humano, independentemente da cor de sua pele? Quantas gerações também não presenciaram tais atrocidades e conceitos distorcidos, perpetuando assim o preconceito contra negros?
O preconceito se perpetua no Brasil
A Lei Áurea não assegurava que as pessoas libertas tivessem garantia à educação e à moradia. O preconceito já havia penetrado a mente da maioria da sociedade brasileira, e houve uma grande exclusão social com os que haviam sido libertos. O desamparo foi alarmante. Os “escravos libertos” que arriscaram sobreviver nas cidades grandes – vale relembrar: após anos de escravidão passados de geração para geração -- terminaram cometendo crimes pela sobrevivência, pois enfrentaram a miséria e enfermidades. Muitos culminaram na morte prematura ou depressão regada a bebidas alcóolicas.
Um exemplo da situação humilhante enfrentada pelos negros após o "fim" da escravidão, ocorreu na virada do século. Em 1910 (22 anos após a Lei Áurea ser assinada) garotos negros eram recrutados aos 16 anos para exercer a função de marinheiros para servir a pátria. A forma de disciplina? Chibatadas. O mesmo “modelo” de tortura disciplinar e opressora utilizado no período da escravidão. Os marujos decidiram lutar contra os castigos corporais e pelo aumento dos salários, o que resultou na Revolta da Chibata – movimento negro que revolucionou a história contra o preconceito racial.
Atualmente
Porém, após todo o reconhecimento e informação, o racismo continua presente no Brasil. Com as mídias sociais, e a possibilidade de se esconder por trás de uma tela de computador, muitos racistas fazem uso dessa ferramenta para perpetuar o pensamento arcaico proveniente do século XVI. Presenciamos esses atos infelizes nas “brincadeiras”; na quantidade de artistas negros na ativa; no número de trabalhadores negros que são mais facilmente demitidos, seja entre bancários, seja em outras categorias; nos insultos aos estudantes negros, que lutam arduamente para garantir o futuro após ingresso nas universidades. A semana da consciência negra vale para todos refletirem sobre a nossa sociedade, e para que essa reflexão seja feita todos os dias.
Em defesa da juventude, dos homens e mulheres, negros e negras deste país.