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Situação da Funcef preocupa participantes

16/12/15

O Sindicato dos Bancários do RN promoveu um debate sobre o déficit na Funcef na noite desta terça-feira, 15, no auditório José Campelo Filho. Estiveram presentes a presidente da ANIPA Lia Menezes, o diretor eleito da Funcef, Max Pantoja e o representante do comitê de investimento da Funcef, João Maceno.

Lia Menezes aproveitou a noite para apresentar aos presentes a ANIPA (Associação Nacional Independente dos Participantes e Assistidos da FUNCEF) que, segundo ela, nasceu do vácuo de representatividade que os participantes da FUNCEF se viram no momento e que foi constatado o grave problema de déficit.

Lia lembrou que o déficit passou, em apenas um ano, de 6,5 bilhões em dezembro de 2014 pra 11 bilhões e 100 milhões em novembro de 2015. “Precisávamos de uma entidade que representasse única e exclusivamente os participantes da Fundação”.

De agosto a dezembro 1070 pessoas se filiaram a ANIPA. Para Lia, as pessoas ainda não estão devidamente esclarecidas sobre o que representa um déficit dessa ordem. “Não há outro caminho que não seja o da organização, e do encaminhamento das nossas questões perante a Justiça”, afirmou.

Para Paulo Gurgel, presidente da AEAP (Associação dos Aposentados e Pensionistas da Caixa), esse é um momento importante para esclarecer todos os aposentados sobre o déficit da Funcef. “Preocupa a gente porque nossa aposentadoria depende disso. Preocupa essa permanência desse déficit que já passa de três exercícios.”, avaliou.

Paulo acredita que é hora de procurar alternativas para sair dessa situação. “Esse equacionamento é da legislação. É uma maneira de se injetar recursos para que possa sair da situação deficitária. Não é bom, não temos culpa disso. Não fomos nós que aplicamos (mal) esse dinheiro, mas assumir isso é uma alternativa.”

João Maceno é representante do comitê de investimento da Funcef e apresentou planilhas que mostravam a lucratividade de certos investimentos feitos pela Funcef e o momento em que as “pedaladas contábeis” começaram a dar prejuízo ao patrimônio.

Para ele a disseminação da informação é a grande luta. “A quantidade de pessoas que está discutindo e quer saber a informação é muito pequena. Somos hoje 138 mil. Os aposentados sentem direto no contra-cheque e estão mais ligados. O caso do pessoal da ativa é mais grave, porque o valor do aporte é abatido diretamente da reserva  matemática e as pessoas não veem isso. A falta de informação é um crime”, declarou.

Segundo Maceno, estão mexendo diretamente no bolso dos participantes. “O nosso aporte deverá chegar a algo em torno de 20% do nosso salário. Por 18 anos. Muitos nem verão o final do aporte. Eu quero discutir quem provocou esse rombo, quem fez esse estrago no nosso fundo”. Ele acredita que é preciso responder quem, quando, como e com interesse de quem certos investimentos foram feitos. ”Se não é devido não é pra ser pago.”

Depois de 30, 35 anos contribuindo pra ter uma aposentadoria tranquila, as pessoas começam a passar essa dificuldade. “O que a gente tá vivendo hoje é pra esclarecer as pessoas, porque poder de mudar não estamos tendo. Toda nossa luta morre na praia com o voto de Minerva. Por isso que a Caixa tem que ser responsabilizada por todo déficit. Ela nomeou essas pessoas que provocaram o déficit. E ela ainda tem direito ao voto de Minerva, mesmo a gente votando contra, provando com dados, fatos que não é viável aquele investimento, mesmo assim é feito”, finalizou.

Max Pantoja é diretor eleito da Funcef. Ele avalia como sendo uma ressurreição de um processo, a retomada de consciência dos participantes do Fundo.  “Uma consciência que indevidamente estava adormecida e por esta razão permitiu que o sistema de previdência complementar como um todo entrasse por veredas tortuosas e obscuras”, avalia.

Ele acredita que o Sistema de Previdência Complementar é muito importante para a população assistida por elas e para a economia.  “Acho que parte desse processo de ‘desinteresse’/confiança que baixou a guarda das pessoas para que estabelecessem uma relação de delegação para uma liderança em que eles depositavam suas esperanças e que, aquela liderança, sem o acompanhamento, estaria representando seus mais legítimos e profundos interesses”.

A Funcef foi criada em 1977, no meio do regime militar e o modelo foi trazido como forma de atrair bons quadros para o projeto. Esse benefício traria um efeito colateral, a longo prazo, que era o conflito entre capital e trabalho. Os trabalhadores passavam a ser, de uma forma indireta, empresários. Os grandes poupadores que passavam a financiar empresas. O que traria um arrefecimento desse conflito entre capital e trabalho.

“Ninguém vai cuidar dos nossos interesses como a gente tem condições de cuidar. O que nós vemos a partir dos números negativos que o sistema apresentou é que as pessoas precisam mudar de cultura. Nunca mais os participantes do Sistema de Previdência Complementar vão tratar o sistema do mesmo jeito. Tem consciência da necessidade do acompanhamento”, afirmou Max.

Para o diretor eleito da Funcef, os representantes dos trabalhadores têm uma pauta diferente da pauta da patrocinadora. Isso tem que ficar claro para os trabalhadores. Na última década isso ficou confuso. Uma hora os dirigentes estavam eleitos e outra nomeados, isso foi ruim pro processo. Não perceberam que há um conflito entre patrocinador e patrocinado, um conflito natural. “O trabalhador tem que reagir a isso”.

 

Após o debate, a Funcef lançou um plebiscito para que as pessoas votem uma nova regra de equacionamento. Para a coordenadora-geral do Sindicato dos Bancários do RN, Marta Turra, as pessoas não devem votar  nesse plebiscito para não legitimar tais regras. “Essa conta não é nossa, as pessoas devem ser responsabilizadas por uma gestão errada dos nossos recursos”, afirmou.

O Sindicato defende que as pessoas não participem desse processo já que nenhuma das regras será realmente benéfica para os participantes.