<p justify;"=""> No último Workshop Brasil 2016, reunião anual promovida pelo Bradesco com seus gerentes, o banco decidiu “metralhar” seus funcionários, e convidou Paulo Sattori, ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro); Diógenes Lucca, um dos fundadores do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais da PM de São Paulo) e o humorista Marcelo Tas para comandar a ação.
O que parecia ser um filme de ação policial acabou se tornando um verdadeiro filme de terror. Bancários relataram que a mensagem foi ofensiva, com analogias pesadas. Os gerentes seriam a Tropa de Elite do Bradesco, e utilizando das mesmas frases do filme, pressionavam todos como em um treinamento militar. Em uma palestra chegaram a choramingar, mesmo com os últimos lucros estratosféricos, que este ano seria o pior no cenário econômico. Na tentativa de intimidar os gerentes, o banco tentou fazer uma lavagem cerebral descarada, com gritos de “Missão Dada, Missão Cumprida” sendo repetidos à exaustão, e “se não aguenta, pede pra sair”.
Durante os três dias do evento, os gerentes tinham jornadas dignas de quartel militar: no primeiro dia, os funcionários chegaram no evento às 19h e retornaram para o hotel à 1h da madrugada. Nos outros dias, saíam às 6h do hotel para a Expocenter, tinham intervalo para lanche, uma hora de almoço e só retornavam às 20h. Foram cerca de 12 horas de pressão, e até uma granada foi utilizada para intimidar: o vice-presidente entregou aos diretores, e “alertou” que a granada estava sem pino. Ou seja, se estourasse, explodia todo mundo. Uma ameaça velada aos gerentes, que supostamente teriam que segurar qualquer problema para não prejudicar o banco. Além da granada, um dos vice-presidentes do Bradesco exibiu uma cena do filme O Regresso, no qual o personagem principal interpretado por Leonardo Di Caprio luta contra um urso enfurecido que quase o mata. Ou seja, para o Bradesco o bancário tem que aguentar todas as dificuldades e perigos que possam aparecer em seu trabalho, e lutar até quase morrer, suportando todas as adversidades e falta de compromisso do banco com o trabalhador. Diante de toda essa exploração, o trabalhador está cada vez mais adoecido. Além da LER DORT, estão adoecendo cada vez mais de depressão com toda a pressão psicológica para alcançar mais metas e ameaça da perda de emprego.
Vale a pena relembrar e destacar o comentário do próprio diretor do filme Tropa de Elite, José Padilha: “Para que serve o treinamento do BOPE? É uma doutrinação. Eles são doutrinados até perder a capacidade de pensar criticamente. O objetivo do homem de preto é entrar na favela e deixar corpos no chão. E é isso. Sou caveira e não vou pensar no que estou fazendo.” O Bradesco, ao convidar o Bope, quis fazer essa analogia com seus funcionários. Este é o jeitinho Bradesco de colocar você sempre a frente da parede de fuzilamento.