No ano passado, o banco estatal vendeu R$ 13,1 bilhões a empresas especializadas na recuperação de dívidas, quase o triplo da soma das operações do mesmo tipo feitas pelos três principais concorrentes – Banco do Brasil vendeu R$ 3 bilhões, Itaú Unibanco, R$ 2,2 bilhões, e Bradesco não efetuou esse tipo de negócio. Pelas transações feitas no ano passado, a Caixa recebeu apenas R$ 439,3 milhões.
Depois de ser protagonista na expansão de crédito no Brasil nos últimos anos, com crescimento da carteira até superior a 40% ao ano, a Caixa passa por brusca desaceleração na concessão de empréstimos e financiamentos. Fechou 2015 com aumento de 11,9%, ritmo bem menor do que os 22,4% de 2014 e os 36,8% de 2013.
“A Caixa entrou numa série de linhas que nunca tinha entrado antes, foi muito agressiva na oferta de crédito, viu a inadimplência subir e não tem a expertise na recuperação de inadimplentes”, afirma Guilherme Ferreira, da Jive, empresa de recuperação de dívidas.
Distorção
Para especialistas do setor, a Caixa errou na forma como tornou pública a operação, sem dar detalhes do impacto da venda de créditos que ainda carregava no balanço do banco na taxa de inadimplência.
Em nota, o banco afirmou que a cessão de carteiras “não performadas ou de baixa possibilidade de recuperação” é uma boa prática de gestão bancária utilizada por bancos no Brasil e no mundo. “Possibilita a renovação dos ativos e a liberação de recursos para aplicação em novas operações”, disse.
Mercado recente
O aumento da inadimplência e o endurecimento gradativo das regras de Basileia – acordo internacional que visa garantir solidez ao sistema financeiro – incentivaram os bancões a repassarem o estoque de devedores. “Os bancos estão vendo de um lado o capital deles sendo comprimido por perdas de inadimplência, por outro lado exigências de capital maior”, diz Guilherme Ferreira, da Jive.
O Banco do Brasil repassou cerca de R$ 3 bilhões de operações já baixadas em prejuízo à Ativos, empresa do grupo especializada na recuperação de dívidas. O lucro do banco com a transação depende da taxa de sucesso da empresa na cobrança dos calotes. Em média, são empréstimos de tíquete baixo, entre R$ 3 mil e R$ 4 mil, sem garantias. O Bradesco não fez cessão de carteiras no ano passado.
<p border-box;="" margin:="" 0px="" 10px;="" color:="" rgb(51,="" 51,="" 51);="" font-family:="" helvetica,="" arial,="" sans-serif;="" font-size:="" 14px;="" letter-spacing:="" -0.1px;="" line-height:="" 21.56px;"=""> No setor, a conta é que a venda de créditos podres em 2015 chegou a R$ 20 bilhões – não há dados oficiais sobre a venda dessas carteiras no País. Os bancos brasileiros registram cerca de R$ 100 bilhões por ano em novas operações de créditos inadimplentes. O mercado ganhou empresas e fundos especializados além da Jive, RCB e Recovery, do BTG Pactual, o que também impulsionou as operações. O aumento da concorrência é visto como saudável.