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Bancos querem economizar com pessoal para lucrar mais

19/09/16

Entrando na terceira semana de greve, os bancários não têm perspectiva de novas negociações com a Fenaban. Os banqueiros e o governo chegaram a chamar três rodadas de negociação após o início da greve, mas apenas uma proposta foi apresentada, ainda na primeira reunião. O reajuste apresentado não cobre sequer a inflação do período e foi rejeitado prontamente.
A intransigência das instituições financeiras pode ser explicado pelos planos de cortar ainda mais profundamente as despesas, de modo a garantir o aumento dos lucros. Vale lembrar que, mesmo com essa queda o setor possui uma lucratividade maior que a de todos os demais setores da economia juntos.
Segundo dados divulgados em paralelo com lucros trimestrais, os grandes bancos vêm conseguindo equilibrar as perdas cortando na carne dos trabalhadores. Para cortar gastos, as medidas adotadas pelas instituições financeiras têm ido em duas principais linhas: a redução de agências e a diminuição do quadro de pessoal. Os dois movimentos ficaram mais intensos neste ano.
Nos 12 meses encerrados em junho, os quatro grandes bancos (Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil) fecharam um total de 413 agências. Para comparação, apenas 19 agências foram fechadas entre junho de 2014 e junho do ano passado. Em muitos casos, porém, as agências não chegaram a desaparecer, sendo convertidas em postos menores, mais baratos para os bancos. Além da economia com o aluguel da agência, o movimento permite aos bancos reduzir despesas com transporte de numerário e mesmo com segurança, em alguns casos.
A redução das agências está ligada ao uso crescente de canais de atendimento digital por parte dos clientes. Essa migração também ajuda os bancos na hora de cortar custos. Um exemplo disso é a propaganda maciça feita pelo Itaú convocando os clientes a mudarem o modo de acesso ao banco “DigItaú”. O maior banco privado do país encerrou o segundo trimestre com 12,2 milhões de clientes digitais, alta de 10% em relação ao mesmo período do ano passado.
A defesa dos postos de trabalho tem sido uma das maiores bandeiras desta greve. O Sindicato dos Bancários do RN defende que seja cumprido o Artigo 158 da Organização Internacional do Trabalho que proíbe demissões imotivadas. Entretanto, é exatamente o oposto que temos vivido. Os bancos também têm enxugado o quadro de funcionários, em especial ao não repor aqueles que deixam a instituição ou se aposentam. Entre junho do ano passado e o mesmo mês deste ano, os quatro maiores bancos cortaram 12,2 mil postos de trabalho. No mesmo intervalo de 2015, foram cortados 5,4 mil.
Todas as instituições diminuíram o número de empregados. Com menos flexibilidade para demitir do que os concorrentes privados, o Banco do Brasil implementou no terceiro trimestre do ano passado um programa de aposentadoria incentivada. Isso ajudou o banco a chegar em junho deste ano com quase 3 mil funcionários a menos que em junho de 2015. 
O Bradesco deve seguir uma trajetória oposta à do BB, com um patamar de gastos menor no segundo semestre na comparação com o primeiro. Com as despesas de marketing relacionadas aos Jogos Olímpicos do Rio, do qual é patrocinador, o banco registrou um aumento de 9,5% nos gastos no primeiro semestre em relação aos primeiros seis meses de 2015.
Para demonstrar que pretende apertar o cinto nos últimos seis meses do ano, o Bradesco anunciou a redução da estimativa de aumento das despesas em 2016 para um intervalo entre 4 e 8% - a anterior variava de 4,5% a 8,5%. E isso deve sair diretamente das relações trabalhistas.
Da mesma forma que seu maior rival, o Itaú também aumentou o desafio de controle de despesas neste ano. Após o resultado do primeiro semestre, que mostrou as despesas subindo em um ritmo maior que as receitas nos 12 meses encerrados em junho, o maior banco privado brasileiro reduziu a meta de gastos para o ano como um todo para uma alta de 2% a 5% - ante uma estimativa anterior que variava entre 5% e 7,5%.
Nossa proposta é de 28,33% de reajuste salarial, PLR linear de 25% dos lucros, estabilidade no emprego, além do fim da terceirização, fim do assédio moral e mais contratações para melhor atendimento aos clientes nas agências. No ano passado, após 21 dias de greve, os bancários conseguiram 10% de aumento salarial. A primeira proposta apresentada foi de apenas 2%. Por isso sabemos que é possível avançar.
Com informações do Valor Econômico