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Não há cura para o que não é doença

04/10/17

Em pleno ano de 2017 muita gente imaginava que estaríamos discutindo se iríamos andar em skates voadores como previu o filme ‘‘De volta para o futuro’’, mas infelizmente ainda recebemos algumas notícias que ferem os direitos às diferenças e à dignidade humana. Isso ocorreu no dia 18 de setembro quando o país foi surpreendido com a notícia de que o juiz federal da 14ª Vara do Distrito Federal Waldemar Cláudio de Carvalho concedeu liminar que abre brecha para que psicólogos ofereçam a terapia de reversão sexual, conhecida como 'cura gay', tratamento proibido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) desde 1999.
Algumas pessoas tentaram defender a decisão dizendo que ela apenas permite que homossexuais procurem atendimento psicológico, no entanto, sabendo que uma das autoras da ação popular que questionava a resolução é a psicóloga Rozângela Alves Justino, que oferecia terapia para que gays e lésbicas deixassem de ser homossexuais, percebemos a falha. Ela foi punida em 2009 pela prática.
A OMS já provou que terapias de reversão sexual não apresentam resolutividade.
 
Bom humor
É com humor que a bancária Rodante Frangakis prefere tratar do tema.  ‘‘Eu costumo usar o bom humor no dia a dia, mas às vezes machuca sim. Eu faço a piada comigo mesma pra evitar que os outros façam’’, relatou.
Para Rodante a decisão é ‘‘ridícula, uma palhaçada’’. ‘‘Vai ter gente que vai procurar por uma questão social, mas nunca pra mudar’’, avalia.
Rodante conta que a única dificuldade que teve foi se assumir lésbica para sua mãe, mas que isso tirou um peso enorme de suas costas. Mesmo evangélica, a mãe a apoiou e provou que o amor é a única cura para o preconceito.
Preconceito que é o maior problema que os bancários enfrentam, mas preferem nem se prender muito a isso. ‘‘Dentro do próprio banco, quando eu comecei foi bem complicado, porque o meu gerente era evangélico radical, mas foi bem pouco tempo, ele foi embora e não houve nenhum problema maior’’, contou Alessandro Oliveira, gerente no BB Stilo.
A recente conquista da união estável por casais homoafetivos ainda é visto com cautela pelos próprios bancos, apesar de estar devidamente registrada no Acordo Coletivo de Trabalho da categoria. ‘‘Quando eu apresentei minha escritura pública de União Estável o banco fez uma consulta à Ajure, então não sei se é medo de fazer a coisa errada ou achar que estavam me beneficiando’’, narrou Alessandro  que mantém um casamento há 10 anos com seu companheiro.
 
Beijaço
Em maio deste ano o movimento LGBT Potiguar promoveu um beijaço em frente ao Itaú, pois, segundo denúncia que tramita na Justiça de SP, o banco teria demitido um funcionário homossexual que assumiu sua união nas redes sociais.
Em Natal, o bancário João Luiz Firmino diz nunca ter se sentido discriminado no ambiente de trabalho. ‘‘Depois de um tempo de consciência não procurei mais me esconder, sou o que sou e não tenho que gritar pros sete mares que sou gay, fico na minha, não me prendo dentro de um casulo esperando que algo venha acontecer’’, destacou.
Os três entrevistados se declararam religiosos e apontaram o fanatismo como a real raiz do preconceito. ‘‘ Sei que existe um ser superior que a gente busca, mas Ele está dentro de cada um de nós, o importante é não fazer da religião uma corrente perigosa’’, finalizou Firmino.