Parte da crítica vê em sua obra um arraigado niilismo em relação à condição humana. Outra busca nela algum positivismo. Beckett foi um experimentalista, um inovador.
por Zuzu Linhares
A característica marcante de sua obra é o impasse. Ele implodiu as fronteiras das artes. Dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, sua obra estendeu-se para o rádio, a televisão e o cinema.
Aficção beckettiana dos primeiros anos, ainda presa à prosa realista do século 19, é composta por uma coletânea de contos em que Bellacqua, alter ego do autor, vagava, solitário e irônico, pelo meio boêmio universitário de Dublin; por Murphy, divertido romance de perseguições amorosas e desencontros existenciais; e por uma coletânea de poemas, longa meditação sobre o tempo.
É possível que a experiência de ter vivido a Segunda Guerra como integrante da Resistência Francesa, tenha determinado a guinada estilística de Beckett no que é considerada sua segunda fase literária. Nos cinco anos após o conflito, passou a dedicar-se a uma temática que seria a mais duradoura de sua obra: a miséria e a solidão humanas. Passa a escrever em francês, língua que lhe parecia mais adequada para livrá-lo da tradição e do virtuosismo que caracterizou a fase inicial, escrita na língua materna. Seus personagens passam a ser despossuídos, vagabundos, cegos, coxos, cujas motivações perderam-se na vida miserável e rotineira.
Tais aspectos estão presentes nas peças ESPE-RANDO GODOT, FIM DE PARTIDA e DIAS FELIZES. Também na prosa, caso da trilogia MOLLOY, MALONE MORRE e O INOMINÁVEL, com seus personagens de linguagem cotidiana, comezinha.
Beckett inovou na li-teratura, fez uso da sintaxe das repetições, servindo-se da indeterminação e das elipses. Verifica-se isso em COMO É, que abole parágrafos e pontuação; na trilogia dos anos 80 (COMPA-NHIA, MAL VISTO MAL DITO e WORSTWARD HO). Também introduziu novidades no teatro, com peças quase desprovidas de ação, privilegiando a palavra narrada e a imagem.
Beckett me parece um carocinho bem duro de roer. Não se espere dele romance, novela, poesia ou peça com começo, meio e fim. Tampouco linearidade no tempo, desfecho ou conclusão. Consequentemente isso dá o que pensar.
Samuel Beckett, Prêmio Nobel de Literatura em 1969, nasceu em Dublin, Irlanda, em l906, e morreu em Paris em 1989.