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A CSP-Conlutas e sua independência de classe: eis a questão

19/04/18

Os fatos ocorridos na luta de classes de nosso país, além de confirmar uma forte crise e polarização política e social, também nos dão a tarefa de revisitar e discutir alguns temas políticos estratégicos. 
Desde a abertura e aprofundamento da crise econômica mundial são vários acontecimentos, como as importantes mobilizações de junho de 2013, passando pelas ocupações de escolas pelos secundaristas, a queda de Dilma, as mobilizações do 8 de Março de 2017 e a Greve Geral deste mesmo ano, os ataques e retiradas de direitos de nossa classe, a força da luta que derrotou a Reforma da Previdência, até a prisão de alguns políticos corruptos e a recente prisão de Lula, bem como a execução de Marielle e Anderson sob a intervenção militar do Rio de Janeiro, que provocou manifestações de massa em todo o país. 
Diante desse cenário é importante que façamos as discussões dos temas mais importantes que se impõem a nossa militância. Importante encará-los de frente, inclusive, para que não sucumbamos em nosso projeto, diante da “teoria do golpe” e da instrumentalização orquestrada por parte da direção do PT e tudo que dela resulta. 
A nossa central, a CSP-Conlutas, traz em sua origem e razão de existência, o desafio de forjar-se como alternativa de direção para as lutas do povo pobre e trabalhador. Partindo dessa localização, nossa defesa é da estratégia socialista em contraposição à rendição da direção da CUT e demais centrais tradicionais à conciliação e abandono da independência de classe. 
Em outras palavras, trata-se de militarmos conscientemente pela construção e fortalecimento de uma Central Sindical e Popular, com a busca da mais ampla unidade de ação, guiada pelo princípio do classismo, tendo em vista que nosso método de agir prioritário é o da ação direta. 
Nascemos lutando contra os distintos projetos burgueses, o que inclui tanto os governantes de plantão como os seus agentes, que nos atacavam e atacam na defesa dos interesses do capitalismo. Foram a ascensão de Lula e do PT à presidência da República e sua contrarreforma da Previdência, ainda em 2003, os detonadores da ruptura de dezenas de sindicatos com a CUT e, posteriormente, a base que nos permitiu aglutinar essas organizações em torno a um projeto político-organizativo que hoje já tem 11 anos de caminhada e que escreveu seu nome, CSP-Conlutas, nos últimos acontecimentos de nossa luta. 
O resgate dessa memória é fundamental nesse momento, tendo em vista que com a prisão de Lula aparece-nos agora por toda parte e em várias organizações, a política do PT e sua tentativa de “ressurgir” como representante dos trabalhadores contra a “elite”, que supostamente os perseguem.
Diferente do que prega o PT, opinamos que Lula não está “sendo preso agora simplesmente por uma perseguição da direita ou por sua localização ao lado da classe trabalhadora”. Trata-se do fato de que ele optou em governar com os mesmos métodos dos políticos tradicionais, a quem, inclusive, ele escolheu para formar parte de seu governo. 
Frente a isso, mais que do que nunca, se torna atual e necessário levantarmos em alto e bom som nossa bandeira de “prisão e confisco dos bens de TODOS os corruptos e corruptores!”. Aécio, Bolsonaro, Temer, Jucá, todos, todos eles têm de ser presos e pagar pela roubalheira aos cofres públicos. Essa deve ser a localização firme e política de nossa central. 
Devemos ir além e nossos debates e posicionamentos não podem se resumir apenas ao resgate desses princípios e bandeiras. Nesse momento também precisamos combater e denunciar toda essa ilusão propagandeada nessa “justiça dos ricos e seus tribunais ou instâncias”.
Cada um de nós sabe de que lado está essa “justiça” quando estamos em greve ou ocupando uma terra. Também sabemos que, para os filhos de nossa classe, não tem essa de primeira ou segunda instância. Nada disso! Nas periferias o julgamento é feito pela PM, no ato, e se formos negros aí é que o bicho pega. É sob essa lógica que temos quase 700 mil homens e mulheres encarcerados no Brasil e sabemos que dessa população carcerária 70% são negros, sendo que metade nunca teve sequer um julgamento, ou seja, nenhuma “instância”, nenhuma “presunção de inocência”! 
Ao longo desses anos, durante e depois dos governos petistas, nossa central sempre se pautou pela ”luta contra os dois blocos burgueses” que se revezam no poder nesse último período e é, simplesmente, isso que temos o desafio de manter nesse momento. Mantermo-nos firmes no princípio da independência de classe de nossa central: eis o “x” da questão. A isso devemos somar nosso combate às ideologias burguesas, reacionárias ou oportunistas, que se alastram contra e no meio de nossa classe. 
Nesse marco temos que responder com seriedade às banalizações plantadas em meio ao atual momento no terreno da “esquerda” como, por exemplo a de que no Brasil estamos diante de uma “onda neofascista”. 
Uma coisa é reconhecermos, inclusive por culpa das traições que causaram a decepção da maioria dos trabalhadores com as medidas dos governos do PT, que governou com a direita e atacou os interesses dos trabalhadores, que há um crescimento de figuras e projetos eleitorais conservadores ou mesmo de extrema-direita, com Trump, nos EUA, ou mesmo as intenções de votos em figuras como Bolsonaro, no Brasil. 
Mas daí a ficar agitando uma caracterização de “fascismo”, com todo seu repugnante significado histórico, chega a ser irresponsável e completamente deseducativo às novas gerações. E, o que é pior, é vermos tudo isso pra justificar uma “saída” eleitoral, ou seja, uma “Frente Ampla (eleitoral) contra o fascismo”. 
Temos a responsabilidade de colocar nossa Central na linha de frente contra essas manobras retóricas que hoje infestam a “esquerda” brasileira e contrapor, mais uma vez, a defesa da independência de classe e a construção de uma alternativa de direção e de um outro projeto de país, o socialismo, e isso não cabe nas urnas. 
A nossa luta é para que os trabalhadores acreditem em suas próprias forças, em sua organização e tomem o seu destino em suas próprias mãos. Uma tarefa dura, certamente, mas que para vencê-la não existe atalho. 
Foi com base nesses pilares que, em sua última reunião, a Secretaria Executiva de nossa Central tomou a decisão de não participar dos atos públicos em defesa de Lula, contra sua prisão ou da chamada campanha “Lula Livre”. Não, não é nossa tarefa nesse momento. O que, sim, temos de manter e impulsionar cada vez mais é o chamado da organização de uma poderosa e necessária resistência e rebeldia de nossa classe contra a guerra social que ora o capitalismo e seus agentes nos impõem. 
Nossa luta é por terra, moradia, emprego, direitos e para botar para fora Temer e todos os corruptos desse Congresso Nacional. 
Nesse contexto devemos nos manter firmemente independentes dos blocos burgueses que por hora disputam o poder para governar para ricos. Para este fim é que devemos colocar todas as forças de nossa central, a CSP-Conlutas. 
 
Por Atnágoras Lo – Membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas