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Perdas/ganhos salariais dos bancários do Banco do Brasil em relação a inflação: quem deve o quê?

04/07/24

Muitos acreditam que contra fatos, não há argumentos. E que os números seriam a forma mais exata de se apresentar fatos. No entanto, há uma frase, muito utilizada nos veículos de comunicação que diz que “a estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem o que você quer demonstrar”. Foi basicamente isso que o Banco do Brasil fez nos últimos dias. Divulgou em seu site interno sobre negociação coletiva que, de 2005 a 2023, o BB concedeu um ganho real aos seus trabalhadores em torno de 18,3% superior a inflação. Veja na tabela abaixo a meia verdade do BB:
 
 
De fato, nesse período da pesquisa, os bancários do Banco do Brasil tiveram ganho salarial superior a inflação (INPC). No entanto, se analisarmos os últimos 4 anos (2020,2021,2022,2023), houve uma perda de 1,01%. Entre 2020 e 2022 os bancários do BB tiveram reposição salarial inferior à inflação dos respectivos anos. Ver gráfico e tabela abaixo.
 
 
Como vemos, nesses últimos 4 anos, os bancários tiveram uma reposição salarial acumulada de 27,22% e uma inflação de 28,73%, o que resulta em uma perda real de 1,01%.
 
O Plano Real e a perda histórica nos salários! 
Para “dourar a pílula”, ou melhor, os reajustes, o que o Banco do Brasil fez foi deixar de divulgar a perda histórica dos bancários com o plano Real. O plano Real significou uma “estabilidade econômica” à custa de uma grande derrota do país e da classe trabalhadora. 
O país foi colocado à venda com desnacionalização e privatização de grandes empresas estatais, vendas de bancos estaduais, desindustrialização, conversão artificial de 1 real em 1 dólar (dando uma falsa impressão de moeda forte) e um retrocesso enorme para o país. O que realmente ocorreu é que passamos a ser cada vez mais exportador de matérias primas e importador de produtos manufaturados e de tecnologias.
Nesse período a dívida pública do país, principalmente interna, explodiu. Do ponto de vista salarial, em 1994, os trabalhadores tiveram de cara logo duas derrotas: a primeira quando os salários foram “equiparados a URV”, que levou uma queda do seu valor real (em março de 1994 os salários foram convertidos pela média dos últimos 4 meses e não pelo maior salário) e depois, com o calote da inflação de julho de 1994 (7,75%) e agosto de 1994 (1,85%). 
Na data base de setembro de 1994, os bancários reivindicaram 116% (Fonte: Folha de São Paulo, 03/08/1994) pelas perdas salariais, mas na ocasião os bancários do Banco do Brasil só obtiveram 13,69% de reajuste nos salários. 
No entanto, os ataques ao poder de compra dos bancários do BB e seus salários não pararam aí, analisando o período de 1995 a 2004 verificamos o seguinte:
 
 
Como vemos em todo o período de 1995 a 2004, os bancários do BB só não amargaram perdas salariais em 2004. Chegando inclusive a amargarem 0% de reajuste em 4 anos de 1996 a 1999. Nesse período, os bancários do Banco do Brasil acumulam perdas salariais 54,31%. 
 
Entre perdas e ganhos 
Agora sim, analisando todos os dados sem qualquer manipulação dos números, temos que, considerando as perdas salariais de 1994 com as perdas salariais de 1995 a 2004 e os ganhos salariais de 2005 a 2023, o Banco do Brasil deve repor os salários em 41,67%. Aí sim, poderíamos dizer que o Banco quita a dívida histórica com os seus trabalhadores bancários.
 
Fonte: Nota Técnica Ilaese