O Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Norte vem a público denunciar o verdadeiro caos que a reestruturação do Banco do Brasil está impondo à categoria. Apesar do compromisso firmado no último Acordo Coletivo, de que os sindicatos seriam previamente comunicados sobre a implantação da reestruturação, o banco vem descumprindo sua palavra e implementando alterações de forma unilateral e desorganizada.
Para entendermos o que será esta reestruturação no BB, temos como parâmetro o piloto denominado Inova BB, implementado no estado do Espírito Santo. Os resultados são alarmantes: sobrecarga de trabalho, aumento do estresse dos bancários, desorganização nos processos de mensuração de metas e uma implementação que já nasceu cheia de falhas.
No modelo do piloto Inova BB, os caixas foram transformados em Assistentes de Atendimento e Negócios, com jornada de 6h, sendo uma função “transversal”, isto é, acumulando diversas funções além do atendimento ao público, como vendas, tarefas administrativas e a possibilidade de abrir caixa. É o famoso “faz tudo” dentro da agência. Isso gerou uma pressão absurda, sem uma contrapartida salarial adequada. A realidade dos bancários no Espírito Santo é de exaustão e estresse.
A criação da função de Especialista em Atendimento e Negócios é uma forma de burlar a decisão da Justiça em relação aos Supervisores de Atendimento, que, na maioria dos casos, decidiu que a jornada deveria ser de 6h, por não se tratar de Gerência Média. Esta nova função terá carga horária de 8h e atribuirá mais responsabilidades aos atuais supervisores, que, além do atendimento, serão responsáveis pela prospecção de negócios, coordenação de atividades administrativas e negociais.
Outro ponto de extrema gravidade é a transformação de agências em modelo de loja, sem caixas nem tesouraria, algo já visto em bancos privados como Bradesco e Santander. Esse modelo precariza o atendimento, deixando os clientes dependentes apenas dos caixas eletrônicos do autoatendimento e forçando-os a um deslocamento para procurar o atendimento presencial de caixa em pouquíssimas agências. No Espírito Santo, pegaram as agências com alto fluxo de clientes, como é o caso de bairros comerciais e movimentados, para testar o piloto. O resultado foi um caos para os funcionários e clientes do banco.
O banco também criou novas funções, como a de Assistente de Prospecção PJ e Assistente Estilo, em agências da rede de varejo sem carteira, mas com muitos clientes próximos.
No âmbito do BB Estilo Investidor e BB Exclusivo, as mudanças do piloto Inova BB revelaram uma desorganização profunda e impactos negativos tanto para os bancários quanto para os clientes. Nos Escritórios Exclusivos já existentes, deixaram somente 15 carteiras e criaram um novo escritório com 10 carteiras. No escritório antigo, mantiveram a proporção de dois Gerentes de Relacionamento para um Assistente de Negócios, em uma carteira com 900 clientes. Já no novo escritório, dobraram o número de clientes na carteira e fizeram uma paridade de um Gerente de Relacionamento para um Assistente de Negócios. Todos os escritórios sofreram com o aumento absurdo das metas.
As Agências Estilo Investidor não estão no piloto Inova, pois participam de outro piloto chamado , no qual transformaram as maiores carteiras das Agências Estilo Investidor em Afluentes, que é um modelo de relacionamento novo, intermediário entre Estilo e Private.
Nas Agências Estilo Mistas, foram aplicados dois modelos de piloto: o Ativar e o Novo Conexão. No modelo Ativar, retiraram 1/3 das carteiras e encaminharam para a Estilo Investidor. Do restante, retiraram os clientes não demandantes, que são aqueles com perfil Estilo, mas sem negócios ou interesse de negócios com a Estilo. Para completar as carteiras, captaram clientes do interior do estado e dos Escritórios Exclusivos, ficando as carteiras com 600 clientes. Porém, esses clientes têm um perfil de extrema demanda por atendimento.
Houve uma redistribuição inadequada de clientes nas carteiras, colocando perfis distintos em categorias erradas, o que gerou insatisfação e sobrecarga. Além disso, o número de clientes por carteira aumentou drasticamente, com quatro Gerentes de Relacionamento e três Assistentes de Negócios atendendo até 1.800 clientes.
No modelo Novo Conexão, houve um aumento na complexidade da gestão de negócios e metas, o que acarretou insatisfação dos clientes e maior demanda sobre os bancários.
Tanto as agências Estilo quanto os Escritórios Exclusivos sofreram com metas desproporcionais e problemas técnicos no sistema de gestão de metas. Essa reestruturação ignorou as particularidades das unidades e precarizou ainda mais o trabalho, especialmente no atendimento a clientes de alta renda, que demandam um relacionamento mais próximo e personalizado. Essas mudanças não resolveram o problema de sobrecarga. Ao contrário: a nova distribuição de carteiras dobrou a demanda de trabalho e aumentou a pressão por metas.
Como relatou um colega do Espírito Santo: “Não há condição humana para atender essa demanda”.
A implementação do atendimento via WhatsApp, agora incorporado ao sistema do banco (CRM), revelou o verdadeiro volume de trabalho. O impacto foi tão grande que as agências tiveram que aumentar a capacidade de internet de 15 MB para 100 MB. Mesmo assim, não conseguem dar conta do fluxo de atendimento. A nova ferramenta, ao invés de melhorar a situação, apenas sobrecarregou ainda mais os colegas.
O banco também falhou na calibração do sistema de metas durante o piloto do Inova BB . Por exemplo, os meses de julho, agosto e setembro foram excluídos da mensuração por problemas técnicos, prejudicando o acompanhamento do desempenho dos trabalhadores e criando um ambiente de incerteza e pressão psicológica.
O modelo Inova BB é um verdadeiro ataque aos trabalhadores do Banco do Brasil. A falta de planejamento, de transparência, a imposição unilateral das mudanças, visto que os Assistentes que não aceitarem a nova função perderão a função e entrarão no “esmolão” de quatro meses. A incerteza e a precarização do trabalho estão levando os colegas à exaustão. Ao mesmo tempo, os clientes também saem prejudicados, com um atendimento cada vez mais desorganizado e desumanizado.
O Sindicato dos Bancários do RN está atento. Não vamos aceitar que o Banco do Brasil avance com essa reestruturação sem dialogar com a categoria e com as entidades representativas. O banco deve cumprir o acordo coletivo, respeitar os trabalhadores e garantir condições dignas de trabalho e atendimento de qualidade à população.
Não à precarização do Banco do Brasil!