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Presidente do BC terá dificuldade para reduzir meta de inflação, dizem analistas

24/06/11

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá dificuldade em emplacar, até o fim de seu mandato, em 2014, a redução da meta central de inflação do país, segundo especialistas. A meta de inflação é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que se reúne na próxima quinta-feira (30) para fixar a meta de 2013. O objetivo para 2014 será determinado somente em meados do ano que vem.


Ao assumir o comando da autoridade monetária, em janeiro deste ano, Tombini afagou o mercado financeiro ao repetir o discurso já adotado por outros presidentes da instituição. Ele defendeu, para o futuro, sem citar datas, a redução da meta vigente. Atualmente, a meta central de inflação, que serve de base para o BC definir a taxa básica de juros da economia brasileira, é de 4,5% para 2011 e 2012, com um intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.


"A consolidação dessa política macroeconômica (câmbio flutuante, política fiscal austera e sistema de metas de inflação), combinada ao contínuo aperfeiçoamento do marco legal e regulatório brasileiro, propiciará as condições necessárias para, no futuro, discutirmos a convergência da nossa meta de inflação para níveis mais baixos, semelhantes aos observados nas principais economias emergentes [de 3%]. Esse é um processo que devemos ter a ambição de perseguir no futuro", disse Tombini ao assumir a Presidência do BC, em janeiro deste ano.


Como a decisão é tomada?
O CMN, responsável por fixar a meta de inflação do país, é formado pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Miriam Belchior, e pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. As decisões são tomadas por maioria.


Na definição da meta de inflação, porém, o presidente da República, neste caso Dilma Rousseff, costuma ser consultado. Isso porque a definição da meta pode implicar em uma redução do ritmo de crescimento da economia. Metas de inflação menores podem exigir que o BC suba mais os juros, ou baixe-os com menos intensidade, para atingí-las - gerando reflexos no ritmo de expansão econômica e de geração de empregos.


Interlocutores do Ministério da Fazenda já sinalizaram que a meta de 2013, que será definida pelo CMN na próxima semana, deverá permanecer em 4,5% por conta das pressões inflacionárias existentes na economia.


Fontes do Palácio do Planalto não se manifestaram sobre a preferência da presidente Dilma Rousseff. Lembraram apenas que Dilma tem a postura de defender o controle da inflação, mas sem "sacrificar" a economia, ou "radicalizar" para que isso aconteça. A presidente é avaliada pelo mercado como tendo um perfil mais "desenvolvimentista".


No BC, por sua vez, pessoas dizem que a intenção de Tombini baixar a meta de inflação no futuro não representa um "embate" com o restante da equipe econômica, ou com a presidente da República. Lembram que a redução é defendida pelo presidente do BC somente se as condições econômicas forem "adequadas".


Analistas do mercado financeiro
Rodrigo Melo, economista da Mauá Investimentos, diz que a tendência do CMN é de manter, na próxima quinta-feira, a meta de inflação em 4,5% para o ano de 2013. "Você tem um cenário de inflação rodando sensivelmente acima da meta. Em 2012, a dificuldade de se alcançar e meta central é bastante grande. Você tem boa parte da inflação que é inercial e tem o componente político da Fazenda", declarou ele.


O analista diz que a convergência para uma meta de inflação menor no país seria "bastante gradual". "(A redução da meta até 2014) não depende só do Tombini. Ele vai ter de convencer o ministro da Fazenda, do Planejamento. Tem que convencer a Dilma também, que é o mais importante de tudo. Fica meio complicado. Colocaria probabilidade sensivelmente abaixo de 50% [de a meta ser reduzida até o fim do mandato de Dilma]", disse Melo.


Para Carlos Kawall, economista-chefe do banco Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, a meta de inflação de 2013 deverá ser mantida em 4,5% pelo Conselho Monetário Nacional na semana que vem. Para 2014, ele também acredita que o cenário mais provável é de manutenção da meta central, decisão que só será tomada em 2012, no mesmo patamar.


"Acho que desde o governo Lula, e dando continuidade (no governo Dilma), já existe essa percepção de que, por vários fatores ligados à rigidez, com a indexação e tudo, a meta de inflação não pode ser muito baixa. Então, acho que a probabilidade deles manterem essa linha é altíssima. Talvez mais para frente, se for possível avançar na agenda de desindexação, é possível ter alguma mudança. Em 2014, a probabilidade talvez seja de manter", declarou Kawall.

"Acho que desde o governo Lula, e dando continuidade (no governo Dilma), já existe essa percepção de que, por vários fatores ligados à rigidez, com a indexação e tudo, a meta de inflação não pode ser muito baixa. Então, acho que a probabilidade deles manterem essa linha é altíssima. Talvez mais para frente, se for possível avançar na agenda de desindexação, é possível ter alguma mudança. Em 2014, a probabilidade talvez seja de manter", declarou Kawall.Ele lembrou que o CMN, colegiado que fixa as metas de inflação, é formado por membros do poder Executivo. "No final, quem vai decidir é a presidente da República.
Apesar de se desejar que a inflação seja mais baixa, tem uma lição de casa para fazer que é (combater) indexação. Temos contratado o aumento do salário mínimo nos próximos anos. É outro fator que dificulta", lembrou o economista.