Fonte:Adriana Nicacio Isto é - 17/10/2011
Diante
das paralisações e da pressão dos sindicatos por aumentos, a presidente
diz não aos trabalhadores e escala ministros para negociar com cada
categoria. A estratégia é dura, mas não compromete a relação entre o
governo e as centrais
Como ocorre
em todo o primeiro ano de governo, o movimento sindical estica a corda
nas negociações por aumentos salariais com o Palácio do Planalto no
período de definição dos dissídios coletivos trabalhistas. Foi assim
durante os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da
Silva, e o cenário se repete agora. Escaldada, a presidente Dilma
Rousseff montou previamente uma estratégia para lidar com as exigências
das categorias profissionais. O plano foi colocado em prática na semana
passada, quando a presidente estava na Bélgica, participando da 5ª
cúpula Brasil-União Europeia. Dilma indicou auxiliares e integrantes de
primeiro escalão para negociar com cada categoria específica e em pelo
menos cinco telefonemas para os subordinados em Brasília a presidente
deixou clara sua posição. “Avisem que a minha orientação é a de não
fazer concessões”, determinou.
Dilma decidiu jogar duro com os
sindicatos por dois motivos. O primeiro é a preocupação com os efeitos
da crise internacional sobre a economia brasileira. Outro é a
consciência de que está diante de um movimento sindical dócil,
domesticado por Lula nos últimos oito anos. A maioria das categorias de
servidores, por exemplo, teve generosos aumentos acima da inflação. Já a
cúpula sindical foi amaciada ao sabor da liberação de verbas e
acomodações em cargos públicos. Hoje, não seria leviano afirmar que os
sindicalistas são tão ou mais governistas que o PMDB. “Os trabalhadores
têm muita gordura para queimar”, repetiu Dilma nos últimos dias. “As
coisas mudaram. No governo Lula, havia muito mais espaço para
negociações”, reconhece José Rivaldo da Silva, presidente da Federação
Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Correios. Nessa estratégia de
recrudescer o diálogo, a presidente defendeu o corte do ponto dos
grevistas e o fim do diálogo com os líderes sindicais até o
pronunciamento da Justiça do Trabalho. Ao pesar a mão, ela quer
desencorajar demandas de outras categorias, como os petroleiros, que já
aprovaram indicativo de greve para a terça-feira 18. Há grande receio
com o efeito cascata que seria provocado por aumentos excessivos e seu
impacto sobre a inflação.
As preocupações não devem se restringir
apenas à economia, ensina a retrospectiva histórica. O ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, quando endureceu o discurso, pagou uma conta
pesada. Em maio de 1995, os petroleiros iniciaram uma greve histórica.
Mais de 90% da categoria parou por 32 dias contra a privatização da
Petrobras. Após uma semana, o TST considerou a greve abusiva, mas os
petroleiros não cederam. A greve foi marcada por demissões, punições e a
presença de tanques do Exército nas refinarias da Petrobras. Com isso,
Fernando Henrique sofreu enorme desgaste e viu chegar ao fim a lua de
mel com os trabalhadores. Diferentemente de FHC, a presidente Dilma
Rousseff não quer deixar que a situação chegue a esse ponto. Apesar de
enfrentar um sindicalismo de espírito “paz e amor”, ela fez questão de
se cercar de cuidados para que nenhum sobressalto político – ou
econômico – possa vir a afetar sua popularidade. Se de um lado ela
congelou no Congresso o reajuste de 57% do Judiciário e impediu os
aumentos da Polícia Federal, de outro escalou quatro ministros para
sentar à mesa com os grandes sindicatos.
O ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo, ficou responsável pela greve dos Correios.
Por decisão dele, os contracheques dos grevistas com os dias
descontados foram divulgados na intranet da empresa. O ministro da
Fazenda, Guido Mantega, recebeu a incumbência de acompanhar a greve dos
bancários e vetou o aumento real de 5%. A tarefa da ministra do
Planejamento, Miriam Belchior, é manter o cofre fechado. Ao ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, cabe seguir de perto
os desdobramentos das negociações com os sindicatos. Mas ele não está
sozinho nessa missão: é assessorado pelo experiente sindicalista José
Lopez Feijóo, que trocou a vice-presidência da CUT pelo Planalto em
abril. O deputado estadual Carlos Alberto Grana (PT-SP), que acumula 32
anos de sindicalismo no ABC paulista, também ajuda nos bastidores.
Assim, sindicalistas e governo seguem falando a mesma língua. Um dos
argumentos dos ministros à frente das negociações foi apelar à razão dos
trabalhadores argumentando que uma crise econômica, caso o País não
cuide de suas contas públicas, poderá ser ruim para todo mundo. “Há uma
tempestade se formando no céu, não podemos sair de bermuda e camiseta.
Temos que ter um guarda-chuva”, justifica o ministro das Comunicações,
Paulo Bernardo, titular do Planejamento do governo Lula.
O
guarda-chuva significa negociar, mas ao mesmo tempo não dar muita
guarida aos grevistas na esfera pública. Tanto assim que a greve dos
Correios, depois de 28 dias, foi parar no Tribunal Superior do Trabalho.
O movimento esticou além da conta e, ao fim da paralisação, os
carteiros ficaram felizes porque o TST descontou dos salários apenas
sete dias. Os outros 21 serão pagos em horas extras. A empresa sofreu um
prejuízo de R$ 200 milhões e os grevistas, que haviam pedido aumento
superior a 14%, só receberam 6,87%, além de aumento geral de R$ 80. “O
que nós queríamos não conseguimos. Mas demos sorte, porque o TST não
aplicou a súmula vinculante. Se tivesse, teríamos perdido muito”, diz o
sindicalista José Rivaldo.
Com os limites de negociação
estreitos, os sindicalistas se movem como podem. Na semana passada,
quando os bancários entravam na terceira semana de greve sem que a
Federação Nacional dos Bancos se manifestasse sobre um acordo, o
presidente da CUT, Artur Henrique, passou dois dias tentando convencer o
ministro Guido Mantega a pressionar os bancos públicos a abrir o
diálogo com os trabalhadores. O meio de campo foi feito. Na véspera de
embarcar para a reunião do G-20 em Paris, na terça-feira 11, Mantega
entrou em contato com o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine.
Pediu que os grevistas fossem ouvidos, mas alertou que o reajuste de
12,8% não seria compatível com o momento econômico. Apesar do jogo duro,
Dilma Rousseff tem a seu favor a simpatia irrestrita das centrais
sindicais e das lideranças dos servidores públicos. Todos participaram
ativamente de sua campanha e ainda estão longe de lhe retirar o voto de
confiança. “O primeiro ano do governo Dilma exigiu o endurecimento, mas o
ano que vem pode ser de benesses”, diz José Almiran Rodrigues,
coordenador jurídico da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das
Universidades Públicas.
Fonte:Adriana Nicacio Isto é - 17/10/2011
Diante
das paralisações e da pressão dos sindicatos por aumentos, a presidente
diz não aos trabalhadores e escala ministros para negociar com cada
categoria. A estratégia é dura, mas não compromete a relação entre o
governo e as centrais
Como ocorre
em todo o primeiro ano de governo, o movimento sindical estica a corda
nas negociações por aumentos salariais com o Palácio do Planalto no
período de definição dos dissídios coletivos trabalhistas. Foi assim
durante os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da
Silva, e o cenário se repete agora. Escaldada, a presidente Dilma
Rousseff montou previamente uma estratégia para lidar com as exigências
das categorias profissionais. O plano foi colocado em prática na semana
passada, quando a presidente estava na Bélgica, participando da 5ª
cúpula Brasil-União Europeia. Dilma indicou auxiliares e integrantes de
primeiro escalão para negociar com cada categoria específica e em pelo
menos cinco telefonemas para os subordinados em Brasília a presidente
deixou clara sua posição. “Avisem que a minha orientação é a de não
fazer concessões”, determinou.
Dilma decidiu jogar duro com os
sindicatos por dois motivos. O primeiro é a preocupação com os efeitos
da crise internacional sobre a economia brasileira. Outro é a
consciência de que está diante de um movimento sindical dócil,
domesticado por Lula nos últimos oito anos. A maioria das categorias de
servidores, por exemplo, teve generosos aumentos acima da inflação. Já a
cúpula sindical foi amaciada ao sabor da liberação de verbas e
acomodações em cargos públicos. Hoje, não seria leviano afirmar que os
sindicalistas são tão ou mais governistas que o PMDB. “Os trabalhadores
têm muita gordura para queimar”, repetiu Dilma nos últimos dias. “As
coisas mudaram. No governo Lula, havia muito mais espaço para
negociações”, reconhece José Rivaldo da Silva, presidente da Federação
Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Correios. Nessa estratégia de
recrudescer o diálogo, a presidente defendeu o corte do ponto dos
grevistas e o fim do diálogo com os líderes sindicais até o
pronunciamento da Justiça do Trabalho. Ao pesar a mão, ela quer
desencorajar demandas de outras categorias, como os petroleiros, que já
aprovaram indicativo de greve para a terça-feira 18. Há grande receio
com o efeito cascata que seria provocado por aumentos excessivos e seu
impacto sobre a inflação.
As preocupações não devem se restringir
apenas à economia, ensina a retrospectiva histórica. O ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, quando endureceu o discurso, pagou uma conta
pesada. Em maio de 1995, os petroleiros iniciaram uma greve histórica.
Mais de 90% da categoria parou por 32 dias contra a privatização da
Petrobras. Após uma semana, o TST considerou a greve abusiva, mas os
petroleiros não cederam. A greve foi marcada por demissões, punições e a
presença de tanques do Exército nas refinarias da Petrobras. Com isso,
Fernando Henrique sofreu enorme desgaste e viu chegar ao fim a lua de
mel com os trabalhadores. Diferentemente de FHC, a presidente Dilma
Rousseff não quer deixar que a situação chegue a esse ponto. Apesar de
enfrentar um sindicalismo de espírito “paz e amor”, ela fez questão de
se cercar de cuidados para que nenhum sobressalto político – ou
econômico – possa vir a afetar sua popularidade. Se de um lado ela
congelou no Congresso o reajuste de 57% do Judiciário e impediu os
aumentos da Polícia Federal, de outro escalou quatro ministros para
sentar à mesa com os grandes sindicatos.
O ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo, ficou responsável pela greve dos Correios.
Por decisão dele, os contracheques dos grevistas com os dias
descontados foram divulgados na intranet da empresa. O ministro da
Fazenda, Guido Mantega, recebeu a incumbência de acompanhar a greve dos
bancários e vetou o aumento real de 5%. A tarefa da ministra do
Planejamento, Miriam Belchior, é manter o cofre fechado. Ao ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, cabe seguir de perto
os desdobramentos das negociações com os sindicatos. Mas ele não está
sozinho nessa missão: é assessorado pelo experiente sindicalista José
Lopez Feijóo, que trocou a vice-presidência da CUT pelo Planalto em
abril. O deputado estadual Carlos Alberto Grana (PT-SP), que acumula 32
anos de sindicalismo no ABC paulista, também ajuda nos bastidores.
Assim, sindicalistas e governo seguem falando a mesma língua. Um dos
argumentos dos ministros à frente das negociações foi apelar à razão dos
trabalhadores argumentando que uma crise econômica, caso o País não
cuide de suas contas públicas, poderá ser ruim para todo mundo. “Há uma
tempestade se formando no céu, não podemos sair de bermuda e camiseta.
Temos que ter um guarda-chuva”, justifica o ministro das Comunicações,
Paulo Bernardo, titular do Planejamento do governo Lula.
O
guarda-chuva significa negociar, mas ao mesmo tempo não dar muita
guarida aos grevistas na esfera pública. Tanto assim que a greve dos
Correios, depois de 28 dias, foi parar no Tribunal Superior do Trabalho.
O movimento esticou além da conta e, ao fim da paralisação, os
carteiros ficaram felizes porque o TST descontou dos salários apenas
sete dias. Os outros 21 serão pagos em horas extras. A empresa sofreu um
prejuízo de R$ 200 milhões e os grevistas, que haviam pedido aumento
superior a 14%, só receberam 6,87%, além de aumento geral de R$ 80. “O
que nós queríamos não conseguimos. Mas demos sorte, porque o TST não
aplicou a súmula vinculante. Se tivesse, teríamos perdido muito”, diz o
sindicalista José Rivaldo.
Com os limites de negociação
estreitos, os sindicalistas se movem como podem. Na semana passada,
quando os bancários entravam na terceira semana de greve sem que a
Federação Nacional dos Bancos se manifestasse sobre um acordo, o
presidente da CUT, Artur Henrique, passou dois dias tentando convencer o
ministro Guido Mantega a pressionar os bancos públicos a abrir o
diálogo com os trabalhadores. O meio de campo foi feito. Na véspera de
embarcar para a reunião do G-20 em Paris, na terça-feira 11, Mantega
entrou em contato com o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine.
Pediu que os grevistas fossem ouvidos, mas alertou que o reajuste de
12,8% não seria compatível com o momento econômico. Apesar do jogo duro,
Dilma Rousseff tem a seu favor a simpatia irrestrita das centrais
sindicais e das lideranças dos servidores públicos. Todos participaram
ativamente de sua campanha e ainda estão longe de lhe retirar o voto de
confiança. “O primeiro ano do governo Dilma exigiu o endurecimento, mas o
ano que vem pode ser de benesses”, diz José Almiran Rodrigues,
coordenador jurídico da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das
Universidades Públicas.
Fonte:Adriana Nicacio Isto é - 17/10/2011
Diante
das paralisações e da pressão dos sindicatos por aumentos, a presidente
diz não aos trabalhadores e escala ministros para negociar com cada
categoria. A estratégia é dura, mas não compromete a relação entre o
governo e as centrais
Como ocorre
em todo o primeiro ano de governo, o movimento sindical estica a corda
nas negociações por aumentos salariais com o Palácio do Planalto no
período de definição dos dissídios coletivos trabalhistas. Foi assim
durante os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da
Silva, e o cenário se repete agora. Escaldada, a presidente Dilma
Rousseff montou previamente uma estratégia para lidar com as exigências
das categorias profissionais. O plano foi colocado em prática na semana
passada, quando a presidente estava na Bélgica, participando da 5ª
cúpula Brasil-União Europeia. Dilma indicou auxiliares e integrantes de
primeiro escalão para negociar com cada categoria específica e em pelo
menos cinco telefonemas para os subordinados em Brasília a presidente
deixou clara sua posição. “Avisem que a minha orientação é a de não
fazer concessões”, determinou.
Dilma decidiu jogar duro com os
sindicatos por dois motivos. O primeiro é a preocupação com os efeitos
da crise internacional sobre a economia brasileira. Outro é a
consciência de que está diante de um movimento sindical dócil,
domesticado por Lula nos últimos oito anos. A maioria das categorias de
servidores, por exemplo, teve generosos aumentos acima da inflação. Já a
cúpula sindical foi amaciada ao sabor da liberação de verbas e
acomodações em cargos públicos. Hoje, não seria leviano afirmar que os
sindicalistas são tão ou mais governistas que o PMDB. “Os trabalhadores
têm muita gordura para queimar”, repetiu Dilma nos últimos dias. “As
coisas mudaram. No governo Lula, havia muito mais espaço para
negociações”, reconhece José Rivaldo da Silva, presidente da Federação
Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Correios. Nessa estratégia de
recrudescer o diálogo, a presidente defendeu o corte do ponto dos
grevistas e o fim do diálogo com os líderes sindicais até o
pronunciamento da Justiça do Trabalho. Ao pesar a mão, ela quer
desencorajar demandas de outras categorias, como os petroleiros, que já
aprovaram indicativo de greve para a terça-feira 18. Há grande receio
com o efeito cascata que seria provocado por aumentos excessivos e seu
impacto sobre a inflação.
As preocupações não devem se restringir
apenas à economia, ensina a retrospectiva histórica. O ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, quando endureceu o discurso, pagou uma conta
pesada. Em maio de 1995, os petroleiros iniciaram uma greve histórica.
Mais de 90% da categoria parou por 32 dias contra a privatização da
Petrobras. Após uma semana, o TST considerou a greve abusiva, mas os
petroleiros não cederam. A greve foi marcada por demissões, punições e a
presença de tanques do Exército nas refinarias da Petrobras. Com isso,
Fernando Henrique sofreu enorme desgaste e viu chegar ao fim a lua de
mel com os trabalhadores. Diferentemente de FHC, a presidente Dilma
Rousseff não quer deixar que a situação chegue a esse ponto. Apesar de
enfrentar um sindicalismo de espírito “paz e amor”, ela fez questão de
se cercar de cuidados para que nenhum sobressalto político – ou
econômico – possa vir a afetar sua popularidade. Se de um lado ela
congelou no Congresso o reajuste de 57% do Judiciário e impediu os
aumentos da Polícia Federal, de outro escalou quatro ministros para
sentar à mesa com os grandes sindicatos.
O ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo, ficou responsável pela greve dos Correios.
Por decisão dele, os contracheques dos grevistas com os dias
descontados foram divulgados na intranet da empresa. O ministro da
Fazenda, Guido Mantega, recebeu a incumbência de acompanhar a greve dos
bancários e vetou o aumento real de 5%. A tarefa da ministra do
Planejamento, Miriam Belchior, é manter o cofre fechado. Ao ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, cabe seguir de perto
os desdobramentos das negociações com os sindicatos. Mas ele não está
sozinho nessa missão: é assessorado pelo experiente sindicalista José
Lopez Feijóo, que trocou a vice-presidência da CUT pelo Planalto em
abril. O deputado estadual Carlos Alberto Grana (PT-SP), que acumula 32
anos de sindicalismo no ABC paulista, também ajuda nos bastidores.
Assim, sindicalistas e governo seguem falando a mesma língua. Um dos
argumentos dos ministros à frente das negociações foi apelar à razão dos
trabalhadores argumentando que uma crise econômica, caso o País não
cuide de suas contas públicas, poderá ser ruim para todo mundo. “Há uma
tempestade se formando no céu, não podemos sair de bermuda e camiseta.
Temos que ter um guarda-chuva”, justifica o ministro das Comunicações,
Paulo Bernardo, titular do Planejamento do governo Lula.
O
guarda-chuva significa negociar, mas ao mesmo tempo não dar muita
guarida aos grevistas na esfera pública. Tanto assim que a greve dos
Correios, depois de 28 dias, foi parar no Tribunal Superior do Trabalho.
O movimento esticou além da conta e, ao fim da paralisação, os
carteiros ficaram felizes porque o TST descontou dos salários apenas
sete dias. Os outros 21 serão pagos em horas extras. A empresa sofreu um
prejuízo de R$ 200 milhões e os grevistas, que haviam pedido aumento
superior a 14%, só receberam 6,87%, além de aumento geral de R$ 80. “O
que nós queríamos não conseguimos. Mas demos sorte, porque o TST não
aplicou a súmula vinculante. Se tivesse, teríamos perdido muito”, diz o
sindicalista José Rivaldo.
Com os limites de negociação
estreitos, os sindicalistas se movem como podem. Na semana passada,
quando os bancários entravam na terceira semana de greve sem que a
Federação Nacional dos Bancos se manifestasse sobre um acordo, o
presidente da CUT, Artur Henrique, passou dois dias tentando convencer o
ministro Guido Mantega a pressionar os bancos públicos a abrir o
diálogo com os trabalhadores. O meio de campo foi feito. Na véspera de
embarcar para a reunião do G-20 em Paris, na terça-feira 11, Mantega
entrou em contato com o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine.
Pediu que os grevistas fossem ouvidos, mas alertou que o reajuste de
12,8% não seria compatível com o momento econômico. Apesar do jogo duro,
Dilma Rousseff tem a seu favor a simpatia irrestrita das centrais
sindicais e das lideranças dos servidores públicos. Todos participaram
ativamente de sua campanha e ainda estão longe de lhe retirar o voto de
confiança. “O primeiro ano do governo Dilma exigiu o endurecimento, mas o
ano que vem pode ser de benesses”, diz José Almiran Rodrigues,
coordenador jurídico da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das
Universidades Públicas.