As tensões crescem no mercado financeiro mundial à medida em que se aproxima o fatídico dia 2 de agosto. Até lá, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, precisa ter finalizado um acordo com o Congresso (leia-se Partido Republicano) para elevar o teto da dívida.
Se isso não acontecer, o governo americano terá basicamente duas opções: cortar gastos no curtíssimo prazo ou dar um calote. Ainda que a eventual moratória venha a ser “apenas” parcial e cheia de explicações, ela não deixará de ser sinônimo de inadimplência, que é sinônimo de calote.
Em busca dessas respostas, EXAME.com conversou com três experientes economistas: José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos; Jason Vieira, estrategista-sênior da Cruzeiro do Sul Corretora; e José Francisco de Lima Gonçalves, professor da USP e economista-chefe do Banco Fator.
A principal dificuldade dos analistas foi traçar um cenário em que a grande potência mundial deixa de ser a referência para tudo. É preciso ressaltar, inclusive, que nenhum dos especialistas considera provável o calote americano. Na pior das hipóteses, dizem, um acordo será fechado às pressas assim que os primeiros efeitos desse cenário respingar na economia. Mas, como a decisão passa pelas mãos dos republicanos, tudo pode acontecer.Dólar
Um calote americano provavelmente derrubaria o valor do dólar, que é a moeda referência no mundo inteiro. “Ninguém consegue raciocinar sem o dólar. Isso iria embaralhar todo o mercado financeiro”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, professor da USP e economista-chefe do Banco Fator.
Economia chinesa
Embora a China possa sair fortalecida politicamente de um calote americano, os chineses têm mais a perder do que a ganhar com essa situação, correndo o risco de sofrer uma recessão.
Seriam basicamente três impactos:
O primeiro envolveria as exportações chinesas, cujo principal comprador é o consumidor americano. O segundo teria relação com os preços das commodities, que, se disparassem, elevariam os gastos com importações. O terceiro impacto seria a desvalorização de suas reservas internacionais, já que a China é o maior detentor de títulos americanos do mundo.
“O déficit comercial e a desvalorização das reservas levariam a China à recessão”, diz José Francisco de Lima Gonçalves. Para o professor José Márcio Camargo, o foco principal seria o comércio externo. “A desvalorização das reservas seria só uma perda de capital. Mais importante do que isso, é avaliar o quanto uma recessão americana afetaria a economia chinesa.”
Real
Não há consenso sobre o que aconteceria com a moeda brasileira em um cenário de calote americano. Jason Vieira acha que, apesar dos juros altos no Brasil, a insegurança causada pela moratória americana geraria uma fuga de investidores, o que desvalorizaria o real.Já o professor José Márcio Camargo tem um cenário misto. Num primeiro momento, logo após o calote americano, haveria uma busca por segurança, com investidores saindo do Brasil e indo para a Alemanha ou a China. Isso desvalorizaria o real. Quando a situação se acalmasse, haveria um retorno desses recursos ao Brasil, valorizando novamente o câmbio.
O simples anúncio do calote americano geraria pânico nos mercados internacionais. A Bovespa, nesse contexto, não conseguiria sair ilesa. No médio prazo, no entanto, poderia acontecer uma recuperação similar à registrada após as turbulências de 2008.
Economia brasileira
Embora o Brasil reúna condições para enfrentar uma crise parecida com a de 2008, os especialistas avaliam que a nossa economia teria mais a perder do que a ganhar com um calote americano.
“O Brasil perderia um bom parceiro comercial, que são os Estados Unidos. Além disso, o cenário nebuloso que estaria formado no mundo atrapalharia a nossa economia interna, pois a falta de crédito levaria os empresários a travar os investimentos e os consumidores, a adiar as compras. É muito parecido com o que aconteceu em 2008”, diz Jason Vieira.
O Brasil também perderia dinheiro com a desvalorização das reservas em dólar, o chamado colchão de proteção contra crises. Além disso, as fortes oscilações cambiais – para cima ou para baixo – atrapalham o planejamento dos empresários e geram incertezas inflacionárias.
Se isso não acontecer, o governo americano terá basicamente duas opções: cortar gastos no curtíssimo prazo ou dar um calote. Ainda que a eventual moratória venha a ser “apenas” parcial e cheia de explicações, ela não deixará de ser sinônimo de inadimplência, que é sinônimo de calote.
Em busca dessas respostas, EXAME.com conversou com três experientes economistas: José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos; Jason Vieira, estrategista-sênior da Cruzeiro do Sul Corretora; e José Francisco de Lima Gonçalves, professor da USP e economista-chefe do Banco Fator.
A principal dificuldade dos analistas foi traçar um cenário em que a grande potência mundial deixa de ser a referência para tudo. É preciso ressaltar, inclusive, que nenhum dos especialistas considera provável o calote americano. Na pior das hipóteses, dizem, um acordo será fechado às pressas assim que os primeiros efeitos desse cenário respingar na economia. Mas, como a decisão passa pelas mãos dos republicanos, tudo pode acontecer.Dólar
Um calote americano provavelmente derrubaria o valor do dólar, que é a moeda referência no mundo inteiro. “Ninguém consegue raciocinar sem o dólar. Isso iria embaralhar todo o mercado financeiro”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, professor da USP e economista-chefe do Banco Fator.
Economia chinesa
Embora a China possa sair fortalecida politicamente de um calote americano, os chineses têm mais a perder do que a ganhar com essa situação, correndo o risco de sofrer uma recessão.
Seriam basicamente três impactos:
O primeiro envolveria as exportações chinesas, cujo principal comprador é o consumidor americano. O segundo teria relação com os preços das commodities, que, se disparassem, elevariam os gastos com importações. O terceiro impacto seria a desvalorização de suas reservas internacionais, já que a China é o maior detentor de títulos americanos do mundo.
“O déficit comercial e a desvalorização das reservas levariam a China à recessão”, diz José Francisco de Lima Gonçalves. Para o professor José Márcio Camargo, o foco principal seria o comércio externo. “A desvalorização das reservas seria só uma perda de capital. Mais importante do que isso, é avaliar o quanto uma recessão americana afetaria a economia chinesa.”
Real
Não há consenso sobre o que aconteceria com a moeda brasileira em um cenário de calote americano. Jason Vieira acha que, apesar dos juros altos no Brasil, a insegurança causada pela moratória americana geraria uma fuga de investidores, o que desvalorizaria o real.Já o professor José Márcio Camargo tem um cenário misto. Num primeiro momento, logo após o calote americano, haveria uma busca por segurança, com investidores saindo do Brasil e indo para a Alemanha ou a China. Isso desvalorizaria o real. Quando a situação se acalmasse, haveria um retorno desses recursos ao Brasil, valorizando novamente o câmbio.
O simples anúncio do calote americano geraria pânico nos mercados internacionais. A Bovespa, nesse contexto, não conseguiria sair ilesa. No médio prazo, no entanto, poderia acontecer uma recuperação similar à registrada após as turbulências de 2008.
Economia brasileira
Embora o Brasil reúna condições para enfrentar uma crise parecida com a de 2008, os especialistas avaliam que a nossa economia teria mais a perder do que a ganhar com um calote americano.
“O Brasil perderia um bom parceiro comercial, que são os Estados Unidos. Além disso, o cenário nebuloso que estaria formado no mundo atrapalharia a nossa economia interna, pois a falta de crédito levaria os empresários a travar os investimentos e os consumidores, a adiar as compras. É muito parecido com o que aconteceu em 2008”, diz Jason Vieira.
O Brasil também perderia dinheiro com a desvalorização das reservas em dólar, o chamado colchão de proteção contra crises. Além disso, as fortes oscilações cambiais – para cima ou para baixo – atrapalham o planejamento dos empresários e geram incertezas inflacionárias.
As tensões crescem no mercado financeiro mundial à medida em que se aproxima o fatídico dia 2 de agosto. Até lá, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, precisa ter finalizado um acordo com o Congresso (leia-se Partido Republicano) para elevar o teto da dívida.
Se isso não acontecer, o governo americano terá basicamente duas opções: cortar gastos no curtíssimo prazo ou dar um calote. Ainda que a eventual moratória venha a ser “apenas” parcial e cheia de explicações, ela não deixará de ser sinônimo de inadimplência, que é sinônimo de calote.
Em busca dessas respostas, EXAME.com conversou com três experientes economistas: José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos; Jason Vieira, estrategista-sênior da Cruzeiro do Sul Corretora; e José Francisco de Lima Gonçalves, professor da USP e economista-chefe do Banco Fator.
A principal dificuldade dos analistas foi traçar um cenário em que a grande potência mundial deixa de ser a referência para tudo. É preciso ressaltar, inclusive, que nenhum dos especialistas considera provável o calote americano. Na pior das hipóteses, dizem, um acordo será fechado às pressas assim que os primeiros efeitos desse cenário respingar na economia. Mas, como a decisão passa pelas mãos dos republicanos, tudo pode acontecer.Dólar
Um calote americano provavelmente derrubaria o valor do dólar, que é a moeda referência no mundo inteiro. “Ninguém consegue raciocinar sem o dólar. Isso iria embaralhar todo o mercado financeiro”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, professor da USP e economista-chefe do Banco Fator.
Economia chinesa
Embora a China possa sair fortalecida politicamente de um calote americano, os chineses têm mais a perder do que a ganhar com essa situação, correndo o risco de sofrer uma recessão.
Seriam basicamente três impactos:
O primeiro envolveria as exportações chinesas, cujo principal comprador é o consumidor americano. O segundo teria relação com os preços das commodities, que, se disparassem, elevariam os gastos com importações. O terceiro impacto seria a desvalorização de suas reservas internacionais, já que a China é o maior detentor de títulos americanos do mundo.
“O déficit comercial e a desvalorização das reservas levariam a China à recessão”, diz José Francisco de Lima Gonçalves. Para o professor José Márcio Camargo, o foco principal seria o comércio externo. “A desvalorização das reservas seria só uma perda de capital. Mais importante do que isso, é avaliar o quanto uma recessão americana afetaria a economia chinesa.”
Real
Não há consenso sobre o que aconteceria com a moeda brasileira em um cenário de calote americano. Jason Vieira acha que, apesar dos juros altos no Brasil, a insegurança causada pela moratória americana geraria uma fuga de investidores, o que desvalorizaria o real.Já o professor José Márcio Camargo tem um cenário misto. Num primeiro momento, logo após o calote americano, haveria uma busca por segurança, com investidores saindo do Brasil e indo para a Alemanha ou a China. Isso desvalorizaria o real. Quando a situação se acalmasse, haveria um retorno desses recursos ao Brasil, valorizando novamente o câmbio.
O simples anúncio do calote americano geraria pânico nos mercados internacionais. A Bovespa, nesse contexto, não conseguiria sair ilesa. No médio prazo, no entanto, poderia acontecer uma recuperação similar à registrada após as turbulências de 2008.
Economia brasileira
Embora o Brasil reúna condições para enfrentar uma crise parecida com a de 2008, os especialistas avaliam que a nossa economia teria mais a perder do que a ganhar com um calote americano.
“O Brasil perderia um bom parceiro comercial, que são os Estados Unidos. Além disso, o cenário nebuloso que estaria formado no mundo atrapalharia a nossa economia interna, pois a falta de crédito levaria os empresários a travar os investimentos e os consumidores, a adiar as compras. É muito parecido com o que aconteceu em 2008”, diz Jason Vieira.
O Brasil também perderia dinheiro com a desvalorização das reservas em dólar, o chamado colchão de proteção contra crises. Além disso, as fortes oscilações cambiais – para cima ou para baixo – atrapalham o planejamento dos empresários e geram incertezas inflacionárias.