O trabalhador negro é o último a ser contratado e o
primeiro a ser demitido. A afirmação é do professor de Economia da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Pedro Chadarevian.
Palestrante convidado, Chadaverian é doutor pela I'IHEAL-Université de
Paris 3, Sorbonne-Nouvelle. Sua tese de doutorado foi sobre a
discriminação racial no Brasil e resultou no livro "Économie Politique
du Racisme au Brésil: de L'abolition de L'esclavage à L'adoption des
Politiques d'action Affirmative" (Economia Política do Racismo no
Brasil: da abolição da escravatura à adoção de políticas de ação
afirmativa), ainda sem tradução para o português.
O economista fez um resgate histórico sobre o problema da discriminação
no Brasil e no mundo. Segundo ele, "existe uma estrutura hierarquizada
que leva em conta atributos físicos para ascensão na carreira, fazendo
com que determinados postos de comando sejam uma subrepresentação de
grupos sociais dominantes".
Meritocracia não se confirma na prática
A pesquisa aponta que as mulheres já são maioria no ensino superior,
inclusive em áreas de excelência, porém no mercado de trabalho elas
continuam enfrentando maior dificuldade de progressão, provando assim
que a visão dominante sobre "meritocracia" não se confirma na prática.
"De acordo com o mérito individual, bastaria um investimento de capital
humano. Mas há contradição nisso, porque o acesso está vinculado às
possibilidades econômicas. Não basta só estudar, há algo que vai além
disso".
O estudo ainda mostra que os brancos são maioria entre os ricos e os
pobres são predominantemente não-brancos. "Quando a gente olha pra base,
para o que há de mais degradante na sociedade, vemos não brancos. Assim
como no topo da pirâmide, há a predominância de brancos".
Os brancos ocupam 70% das vagas das universidades, possuem remuneração
duas vezes superior e estão em ocupações de maior prestígio. Pobres
realizam atividades manuais, informais, são moradores de rua, sem terra e
as maiores vítimas de violência. Para o economista, "a divisão racial
do trabalho é o que gera subempregos aos negros em atividades que não
possibilitam o acesso social".
Ação sindical reduz desigualdades
A pesquisa mostra o impacto da ação dos movimentos sindicais e sociais
na luta contra as desigualdades. "A ação sindical tem sido fundamental
para reduzir os mecanismos de discriminação que estão presentes no
mercado de trabalho", afirma Pedro. Por outro lado, ele lembra que há o
discurso dominante, presente nos manuais de economia, que considera o
sindicato como um mal a ser combatido. "Há uma verdadeira criminalização
do movimento sindical, com o argumento de que o sindicato gera
desemprego, coíbe os avanços tecnológicos e promovem inflação".
Porém, a tradição crítica recuperada por Pedro Chadaverian mostra o
efeito benéfico da luta sindical como regulador do mercado de trabalho
atuando na manutenção do nível salarial, garantindo condições dignas de
trabalho e reduzindo as desigualdades. Setores com alta presença de
negros têm baixa sindicalização; setores com alta sindicalização têm
melhor remuneração; a presença de sindicatos reduz diferenças salariais;
e a divisão racial do trabalho é amenizada em setores mais
sindicalizados.
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O trabalhador negro é o último a ser contratado e o
primeiro a ser demitido. A afirmação é do professor de Economia da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Pedro Chadarevian.
Palestrante convidado, Chadaverian é doutor pela I'IHEAL-Université de
Paris 3, Sorbonne-Nouvelle. Sua tese de doutorado foi sobre a
discriminação racial no Brasil e resultou no livro "Économie Politique
du Racisme au Brésil: de L'abolition de L'esclavage à L'adoption des
Politiques d'action Affirmative" (Economia Política do Racismo no
Brasil: da abolição da escravatura à adoção de políticas de ação
afirmativa), ainda sem tradução para o português.
O economista fez um resgate histórico sobre o problema da discriminação
no Brasil e no mundo. Segundo ele, "existe uma estrutura hierarquizada
que leva em conta atributos físicos para ascensão na carreira, fazendo
com que determinados postos de comando sejam uma subrepresentação de
grupos sociais dominantes".
Meritocracia não se confirma na prática
A pesquisa aponta que as mulheres já são maioria no ensino superior,
inclusive em áreas de excelência, porém no mercado de trabalho elas
continuam enfrentando maior dificuldade de progressão, provando assim
que a visão dominante sobre "meritocracia" não se confirma na prática.
"De acordo com o mérito individual, bastaria um investimento de capital
humano. Mas há contradição nisso, porque o acesso está vinculado às
possibilidades econômicas. Não basta só estudar, há algo que vai além
disso".
O estudo ainda mostra que os brancos são maioria entre os ricos e os
pobres são predominantemente não-brancos. "Quando a gente olha pra base,
para o que há de mais degradante na sociedade, vemos não brancos. Assim
como no topo da pirâmide, há a predominância de brancos".
Os brancos ocupam 70% das vagas das universidades, possuem remuneração
duas vezes superior e estão em ocupações de maior prestígio. Pobres
realizam atividades manuais, informais, são moradores de rua, sem terra e
as maiores vítimas de violência. Para o economista, "a divisão racial
do trabalho é o que gera subempregos aos negros em atividades que não
possibilitam o acesso social".
Ação sindical reduz desigualdades
A pesquisa mostra o impacto da ação dos movimentos sindicais e sociais
na luta contra as desigualdades. "A ação sindical tem sido fundamental
para reduzir os mecanismos de discriminação que estão presentes no
mercado de trabalho", afirma Pedro. Por outro lado, ele lembra que há o
discurso dominante, presente nos manuais de economia, que considera o
sindicato como um mal a ser combatido. "Há uma verdadeira criminalização
do movimento sindical, com o argumento de que o sindicato gera
desemprego, coíbe os avanços tecnológicos e promovem inflação".
Porém, a tradição crítica recuperada por Pedro Chadaverian mostra o
efeito benéfico da luta sindical como regulador do mercado de trabalho
atuando na manutenção do nível salarial, garantindo condições dignas de
trabalho e reduzindo as desigualdades. Setores com alta presença de
negros têm baixa sindicalização; setores com alta sindicalização têm
melhor remuneração; a presença de sindicatos reduz diferenças salariais;
e a divisão racial do trabalho é amenizada em setores mais
sindicalizados.
Estudo mostra que ação sindical reduz desigualdades no mercado de trabalho
03/08/11
O trabalhador negro é o último a ser contratado e o
primeiro a ser demitido. A afirmação é do professor de Economia da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Pedro Chadarevian.
Palestrante convidado, Chadaverian é doutor pela I'IHEAL-Université de
Paris 3, Sorbonne-Nouvelle. Sua tese de doutorado foi sobre a
discriminação racial no Brasil e resultou no livro "Économie Politique
du Racisme au Brésil: de L'abolition de L'esclavage à L'adoption des
Politiques d'action Affirmative" (Economia Política do Racismo no
Brasil: da abolição da escravatura à adoção de políticas de ação
afirmativa), ainda sem tradução para o português.
O economista fez um resgate histórico sobre o problema da discriminação
no Brasil e no mundo. Segundo ele, "existe uma estrutura hierarquizada
que leva em conta atributos físicos para ascensão na carreira, fazendo
com que determinados postos de comando sejam uma subrepresentação de
grupos sociais dominantes".
Meritocracia não se confirma na prática
A pesquisa aponta que as mulheres já são maioria no ensino superior,
inclusive em áreas de excelência, porém no mercado de trabalho elas
continuam enfrentando maior dificuldade de progressão, provando assim
que a visão dominante sobre "meritocracia" não se confirma na prática.
"De acordo com o mérito individual, bastaria um investimento de capital
humano. Mas há contradição nisso, porque o acesso está vinculado às
possibilidades econômicas. Não basta só estudar, há algo que vai além
disso".
O estudo ainda mostra que os brancos são maioria entre os ricos e os
pobres são predominantemente não-brancos. "Quando a gente olha pra base,
para o que há de mais degradante na sociedade, vemos não brancos. Assim
como no topo da pirâmide, há a predominância de brancos".
Os brancos ocupam 70% das vagas das universidades, possuem remuneração
duas vezes superior e estão em ocupações de maior prestígio. Pobres
realizam atividades manuais, informais, são moradores de rua, sem terra e
as maiores vítimas de violência. Para o economista, "a divisão racial
do trabalho é o que gera subempregos aos negros em atividades que não
possibilitam o acesso social".
Ação sindical reduz desigualdades
A pesquisa mostra o impacto da ação dos movimentos sindicais e sociais
na luta contra as desigualdades. "A ação sindical tem sido fundamental
para reduzir os mecanismos de discriminação que estão presentes no
mercado de trabalho", afirma Pedro. Por outro lado, ele lembra que há o
discurso dominante, presente nos manuais de economia, que considera o
sindicato como um mal a ser combatido. "Há uma verdadeira criminalização
do movimento sindical, com o argumento de que o sindicato gera
desemprego, coíbe os avanços tecnológicos e promovem inflação".
Porém, a tradição crítica recuperada por Pedro Chadaverian mostra o
efeito benéfico da luta sindical como regulador do mercado de trabalho
atuando na manutenção do nível salarial, garantindo condições dignas de
trabalho e reduzindo as desigualdades. Setores com alta presença de
negros têm baixa sindicalização; setores com alta sindicalização têm
melhor remuneração; a presença de sindicatos reduz diferenças salariais;
e a divisão racial do trabalho é amenizada em setores mais
sindicalizados.